Quando se trata do nosso salário, nem sempre sabemos como fazer a melhor gestão do dinheiro e, infelizmente, é certo que muitos de nós não conseguem chegar ao final do mês com dinheiro poupado ou investido. Podemos até argumentar que temos ordenados baixos ou que o custo de vida em Portugal está a aumentar, mas, pelo menos, temos que tentar mudar o nosso cenário financeiro para melhor.
De seguida, irei falar sobre como poderá distribuir o rendimento mensal, de uma forma a alcançar vários dos seus objetivos, isto claro, sem deixar de aproveitar a vida. Funcionou bem comigo e acredito que, se for adaptado à realidade de cada um, seja útil partilhar estas sugestões de organização financeira.
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Distribuição por percentagem do rendimento mensal
Tal como o nome indica, vamos distribuir o nosso dinheiro por categorias, atribuindo uma percentagem para cada. Imaginando que uma pessoa tem um rendimento mensal de 1.000€, exemplificaremos assim para ajudar na perceção da distribuição. As percentagens não são nem devem ser difíceis, pois a ideia é ter um controlo e rigor que, atualmente, não temos, quando se trata das nossas finanças pessoais.
Começamos sugerir dividir da seguinte forma:
- 20% (200€) para o futuro;
- 60% (600€) para as despesas gerais;
- 10% (100€) para o lazer;
- 10% (100€), que são adaptáveis ao que precisar.
Somando assim, o total de 100%, que é o nosso vencimento mensal de 1.000€.
A categoria mais importante, no meu ponto de vista, é a do futuro com 20%. Por isso, mal receba, coloque esse montante numa conta à parte (gratuita) da conta à ordem principal, pois esse dinheiro será usado para a constituição/reforço da sua reserva de emergência ou dos seus investimentos. Poderá colocar metade em cada, dependendo da sua situação (10% na reserva e 10% em investimentos) ou, então, tudo num só item (20% reserva ou os 20% para os investimentos). Tente respeitar no mínimo a atribuição de 10% para esta categoria, que é tão importante para si no futuro, pois será a mesma que lhe dará segurança e a possibilidade de ter uma vida melhor.
Passamos para a categoria que leva a maior fatia do ordenado, os itens de contas/despesas gerais. É com esta categoria que vai pagar tudo o que são despesas, tais como: alimentação, renda/empréstimo à habitação, água, luz, gás, telemóveis, televisão, internet, condomínio, empréstimo do carro, dívidas de cartões de crédito, despesas dos filhos, de saúde e, ainda, o combustível ou passe.
Não deve gastar mais do que 80% nesta categoria, pois isso pode significar que está a viver acima das suas possibilidades. Caso isso esteja acontecer, procure diminuir as despesas que tem, seja mudando para outra casa mais barata, restruturando créditos e controlando as contas de casa. Se possível, faça um orçamento familiar e, com isso, perceba para onde está a ir o seu dinheiro.
Todos os meses temos este “jogo”, que consiste em ter que ajustar o rendimento mensal para tornar possível alcançar os nossos objetivos que, normalmente, estão nas categorias do futuro (reserva/ investimentos) e/ou do lazer. Conseguir poupar nas despesas gerais proporcionará uma mudança significativa na sua vida financeira, devido ao impacto que esta categoria tem. No entanto, caso não consiga diminuir estas despesas, procure arranjar uma forma de aumentar os seus rendimentos.
Entretanto, a vida não foi feita só para pagar contas e, por isso, deve ter a categoria do lazer, para não deixar de comprar ou fazer o que gosta (livros, saídas com amigos, ir a jogos, cinema, jantar fora ou algum item que queira comprar, como roupa ou acessórios) e, caso estes 10% não cheguem para algum artigo mais caro, deve repensar a sua vontade ou então, tentar juntar os 10% dos meses seguintes até ter o valor que precisa.
Por fim, se ainda sobram os últimos 10% (caso consiga viver com os 60% para as despesas gerais), estes são da categoria adaptável. Isto é, esta percentagem pode ser usada para o que precisar, como por exemplo, aplicar numa conta à parte para amortizar mais rapidamente as dívidas, como o crédito habitação ou, até mesmo, juntar para as férias.
Crie as suas próprias percentagens, pois a sua realidade é sempre diferente das vidas dos outros. Tenha em conta o seu rendimento, estilo de vida, objetivos, encargos e não use uma distribuição que não faça sentido para si.
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Coisas que deixei de comprar/pagar
Ajudou-me bastante identificar alguns hábitos/despesas que tinha e que, entretanto, consegui reduzir ou deixar de mesmo de pagar. Tente ver quais são as suas e faça uma análise, se possível, pensando “fora da caixa”.
Partilho aqui alguns produtos/serviços que deixei de pagar, tais como: água engarrafada, por causa dos preços inflacionados, principalmente em eventos ou então, no aeroporto, onde já existem bebedouros e podem levar a vossa garrafa vazia de casa e encher a mesma gratuitamente. Outro exemplo, foram alguns produtos alimentares que, no meu caso com a mudança de hábitos, deixaram de ser comprados, como feijões pré-cozidos enlatados e carnes vermelhas, poupando assim na carteira e melhorando também a minha saúde.
Deixei também de pagar o pacote de televisão por completo (pois só uso internet) e nunca mais paguei comissões bancárias, pois existem contas, em Portugal, totalmente gratuitas. Fora isso, habituei-me a comprar artigos online sem portes de envio, como livros e produtos para a casa, esperando sempre pelas ofertas e promoções.
Quanto à mudança de hábito que mais me fez poupar dinheiro, foi mesmo decidir vender o carro e andar mais a pé ou ir de transportes públicos. E, apesar de pagar o passe mensal, essa despesa é substancialmente mais reduzida, pois já não preciso de pagar combustível, seguro, mecânico e inspeção.
Obviamente que esta é a minha realidade e, como disse anteriormente, nem todas as pessoas podem deixar de comprar água engarrafada, porque a água da sua casa não tem qualidade suficiente para se beber, ou então, tomar a decisão de vender o seu carro, porque vive longe de tudo, porque tem filhos e precisa de os levar à escola ou, simplesmente, porque adora ver televisão por cabo e, por isso, não quer deixar de a subscrever.
Será perfeitamente normal que as minhas escolhas não se apliquem à vossa realidade, mas o que se pretende com esta partilha é que cada um faça uma análise às suas contas, para identificar o que possa alterar ou reduzir na sua vida. Escolham as vossas percentagens de distribuição do vosso rendimento e tentem respeitar isso ao máximo, tendo foco e disciplina nessa tarefa.
Percam algum tempo e experimentem conhecer para onde vai o vosso dinheiro, pois se fizerem mensalmente esta gestão irão ver os resultados da vossa conquista no final de um ano. E, se já tiverem decidido os montantes a atingir (algo que deve sempre ser feito anualmente), vai ser com este método que os vão conseguir alcançar mais facilmente!
Por Ariana Nunes
(Educadora financeira e criadora do Canal Renda Maior no YouTube)
Site: https://www.youtube.com/rendamaior