A notícia foi confirmada pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, onde lecionou durante mais de seis décadas. Foi presença regular nas Temporadas de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, avança a Lusa
Menahem Pressler atuou pela última vez em Lisboa em janeiro de 2018, com a Orquestra Gulbenkian, interpretando o Concerto para piano e orquestra n.º23, de Mozart, que considerava “um dos mais belos” do compositor.
Para o pianista, que se manteve ativo até poucos anos antes da morte, tudo se traduzia na “alegria de levar música” às salas de concerto, encontrar pessoas dispostas a partilhá-la consigo, algo que o comovia e tocava “tão fundo”, que lhe era impossível desistir, como disse ao jornal The Boston Globe, em novembro de 2016, quando regressava à atividade, um ano depois de operado a um aneurisma na aorta.
Pressler, que o Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian descreve como “um dos mais prestigiados pianistas”, nasceu em Magdeburgo, na Alemanha, em 16 de dezembro de 1923, e aí viveu até ao momento em que o regime nazi o impediu de aceder ao ensino, como judeu.
Testemunhou a história do último século. Partiu para Itália, com a família, em 1938, após a “noite de cristal” na Alemanha de Hitler, refugiou-se na Palestina, em 1939, e fixou-se nos Estados Unidos, no início da década de 1940, onde viveu desde então.
Venceu o Concurso Internacional de Piano Debussy, em São Francisco, em 1946. Tinha 23 anos e, pouco depois, inaugurava a carreira de concertista com a Orquestra de Filadélfia, com o maestro Eugene Ormandy, uma carreira que prosseguiu com as maiores orquestras da época, nos Estados Unidos, primeiro, e na Europa, depois, concluída a II Guerra Mundial.
Em 1955, fundou o Trio Beaux Arts – “um dos mais aclamados e influentes grupos de câmara a nível mundial”, segundo a Gulbenkian -, que teve em Pressler o único elemento permanente, até à dissolução, em 2008.
O pianista, porém, não abdicou de uma agenda regular de atuações ao vivo, com um programa que atravessava todo o repertório, de Mozart a Brahms, Schubert e Schumann a Beethoven, Tchaikovsky e César Franck, entre outros dos seus compositores de eleição.
Em 2015 suspendeu a atividade, após a cirurgia, mas depressa regressou às salas de concerto e ao ensino que continuou a ministrar na Escola de Música da Universidade do Indiana, a cujo corpo docente pertenceu desde 1955, e à qual se mantinha ligado.
Era uma questão de amor pela música e pelas pessoas, manter-se ativo, como afirmava. “Toco, sinto-me acompanhado, isso faz a música mais bonita e oferece [ao público] algo que pode desfrutar”, disse ao Boston Globe, em novembro de 2016. “Tocar a música que adoro é aquilo para que realmente creio que nasci”, acrescentou.
Em mais de 70 anos de carreira, recebeu vários prémios Gramophone, Diapason, Choc Musique, Charles Cros e Classica, medalhas de mérito da Sociedade Nacional das Artes e das Letras dos Estados Unidos, da Academia das Artes e Ciências, assim como o prémio de carreira da associação americana de Professores de Música.
Em 2005, o Governo alemão condecorou-o com a Grande Cruz de Mérito e o Governo francês nomeou-o comendador da Ordem das Artes e das Letras.
Recebeu a Medalha do Wigmore Hall (2011), no Reino Unido, o Prémio Yehudi Menuhin (2012), em Espanha, a Medalha da Universidade de Indiana (2013) e entrou na Gramophone Hall of Fame em 2012.
Com o Trio Beaux Arts gravou quase todo o repertório de música de câmara, que se traduziu em 60 álbuns, quase todos com as mais altas classificações dos guias Penguin e Gramophone, dedicados à seleção de gravações de música clássica. A solo, somou três dezenas de álbuns, igualmente distinguidos, que cobrem mais de três séculos de música, da expressão barroca de Johann Sebastian Bach à contemporânea de Ben-Haim.
Menahem Pressler foi um nome regular nos festivais e nas temporadas de música da Fundação Calouste Gulbenkian, desde meados da década de 1950. O seu último concerto em Lisboa estava integrado numa digressão europeia que incluía atuações no Concertgbouw de Amesterdão, na Filarmónica de Berlim e no Laeiszhalle de Hamburgo.
Em 2016, disse ao jornal The Times of Israel: “Quando toco, não me sinto com mais de 50 anos e, quando ensino, não tenho mais de 40”.