A Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AICSO) defende que o exercício físico devidamente supervisionado e individualizado deve ser incluído no plano de tratamentos para as pessoas com diagnóstico de cancro de mama, como um “medicamento”, a par de outras terapêuticas, como analgésicos, antieméticos e outros medicamentos de suporte, assim como dos tratamentos dirigidos ao cancro, como a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia, a hormonoterapia e outras terapêuticas-alvo ou a imunoterapia.
“Fala-se muito da necessidade de humanizar e personalizar cada vez mais a Medicina, o que engloba não só a relação médico-doente, mas também a individualização terapêutica, tendo em conta as necessidades que cada pessoa apresenta num determinado momento da sua jornada oncológica. Os planos terapêuticos têm de ser desenhados numa perspetiva mais holística, incluindo o tratamento dirigido ao cancro, claro, mas também o tratamento de suporte, pois as pessoas têm uma vida para viver para além da doença e precisam de a viver com a máxima qualidade e bem-estar possível”, afirma Telma Costa, médica oncologista e membro da direção da AICSO.
A médica acrescenta que há evidência científica de que o exercício físico é eficaz na melhoria de alguns sintomas e performance física, e seguro nas várias fases da doença. “Queremos que esta mensagem chegue a todas as pessoas, em particular aos doentes, para que possam falar e aconselhar-se com as suas equipas de saúde, e a quem tem o poder de decidir, para que o exercício físico seja reconhecido, não apenas como uma atividade de lazer, mas sim como uma opção terapêutica de suporte, acessível e com o acompanhamento adequado por profissionais especializados neste grupo de doentes. O que queremos é uma Medicina mais humanizada e personalizada, que trará certamente vantagens para todos”, afirma.
Telma Costa reforça que existem atualmente opções terapêuticas inovadoras que conferem mais anos de vida com qualidade, além de avanços ao nível dos meios de diagnóstico, o que ajuda a explicar a diminuição progressiva da mortalidade e uma maior sobrevivência, mesmo daqueles com doença metastizada. “Mas nós podemos ainda oferecer mais e melhor a estas mulheres, ou seja, podemos associar a esta inovação melhorias na aptidão física, qualidade de vida e bem-estar, atenuando efeitos adversos relacionados com a doença e tratamentos, e prevenindo outras patologias e complicações futuras”, diz.
Para chamar a atenção para a importância do exercício em mulheres com cancro de mama a AICSO, através do programa ONCOMOVE, lançou a campanha “Mais vida e em equilíbrio com o cancro da mama” que conta com o apoio de diversos parceiros* na área da Saúde, entre os quais os serviços de Oncologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o IPO de Coimbra. “Vamos estar no maior hospital do país no dia 21, às 10h30, para dar uma aula para mulheres que têm ou tiveram cancro de mama e, em Coimbra, a 30 de outubro, às 15h30, a coincidir com o Dia Nacional da Prevenção contra o Cancro da Mama”, revela Anabela Amarelo, membro da AICSO e enfermeira de Oncologia, especialista em Enfermagem de Reabilitação no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.
Anabela Amarelo sublinha que a evidência científica sobre os benefícios do exercício, se torna ainda mais importante quando a pessoa apresenta cancro da mama avançado com metastização a nível esquelético (ou do osso), dado o risco de fratura e de outras complicações. Não esconde que nestas situações, a prática de exercício é subutilizada, não sendo recomendado pela maioria dos médicos assistentes e enfermeiros de oncologia, porque têm dúvidas quanto à segurança e ao risco de complicações. Reconhece que a pessoa com metastização óssea compreende um perfil clínico único e multifacetado, o que torna a estratégia da reabilitação pelo exercício um verdadeiro desafio.
No entanto, revela que, recentemente, um painel de especialistas em Exercício Físico e Cancro formulou consensos dedicados exclusivamente a indivíduos com metástases esqueléticas, o que veio ajudar os profissionais de saúde e da área da reabilitação física a estabelecer as estratégias adequadas para esta população específica. Essas recomendações atestam a segurança e eficácia do treino em pessoas com cancro metastático a nível esquelético.
Acrescenta que, nestes casos, o foco deve estar numa avaliação cuidadosa que permita estabelecer um plano cujos objetivos sejam: a preservação da função física, o auxílio do controlo de sintomas, a prevenção das complicações e, se possível, fazer com que a pessoa que vive com metástases ósseas do cancro da mama se torne o mais funcional possível. Neste sentido, acredita que a prática de exercício físico pode ser uma boa resposta, mas a especificidade desta abordagem deve levar a que a equipa de saúde que acompanha a pessoa com metástases ósseas esteja disponível a discutir o caso e comunicar rotineiramente com o profissional de exercício que realiza o plano de treino (seja o fisiologista do exercício, fisioterapeuta ou enfermeiro de reabilitação).
“É fundamental que os profissionais de saúde desta área e as pessoas que cuidam, tenham esse conhecimento sobre a segurança e benefício das intervenções com base no exercício físico. Como em qualquer outra área, sabemos que uma abordagem personalizada e uma boa comunicação entre especialistas será o garante para uma prestação de cuidados global e que vá realmente ao encontro das necessidades de quem cuidamos”, diz.
Lembra ainda que os benefícios do exercício não se limitam apenas ao cancro da mama. “Nós temos já muito caminho percorrido no programa ONCOMOVE, na reabilitação do doente oncológico. Desenvolvemos, por exemplo, os projetos MAMA_MOVE e PROSTATA_MOVE para otimizar o tratamento da pessoa que vive com e para além do cancro. É um programa multidisciplinar com resultados comprovados”, remata.