Naquele sábado negro, a brutalidade e a escala do ataque do Hamas chocaram Israel e o mundo. Mas a indignação generalizada durou pouco. Ainda os cadáveres não tinham sido todos sepultados, já o massacre era relativizado, «contextualizado», apesar das imagens de violência extrema captadas pelos próprios autores da chacina, das provas encontradas nos telemóveis das vítimas e dos testemunhos angustiantes dos sobreviventes.
“O conflito no Médio Oriente é uma dor que chega de todos os lados. A indignidade humana alcançou-os ali, na sua fronteira, sem fuga possível. Os que dançavam e se divertiam, os que acordavam na sua casa num dia feriado, os que procuravam outra vida Israel. Mortos por terroristas. Feitos reféns. Também é a dor dos palestinianos. Os civis inocentes Gaza. O inimigo de Israel , é um inimigo terrível, cujo proclamado desejo é o de poder exibir, não só o maior número possível de morte de judeus, mas também, no seu próprio campo, o maior número possível de mártires. Israel não é culpado de tentar obstinadamente sobreviver.”
“É já evidente, nesta segunda década do século XXI, que o fim da Guerra Fria, com a queda do muro e a implosão da União Soviética, se pode caracterizar pela emergência do Islão político como protagonista mundial – guerra na Argélia, guerras no Golfo, no Afeganistão, na Bósnia, o 11 de setembro, guerra na Síria, atentados terroristas na Europa – e pelo ressentimento e revisionismo histórico, de que é exemplo paradigmático a invasão da Ucrânia pela Federação Russa. O que há de comum entre estes dois traços do nosso século? O ódio obsessivo ao Ocidente, onde Israel se enquadra.”
Helena Ferro Gouveia trabalhou em mais de 50 países em quatro continentes. Viveu duas décadas na Alemanha, onde foi gestora de projetos internacionais de cooperação e desenvolvimento, assim como consultora.
Nessa qualidade ajudou a desenvolver a Rede Notícias da Amazônia, no Brasil, a CEPRA, rede de rádios dos povos indígenas da Bolívia, e diversas rádios locais em Chittagong e Dhaka, no Bangladesh. Foi docente de Jornalismo na Argentina, Bolívia, Brasil, Moçambique, Timor, Guiné‑Bissau, Gana, Uganda, Sudão do Sul, entre outros países. Foi também docente no campo de refugiados de Kakuma, no Quénia.
É licenciada em Comunicação Social, pós‑graduada em Direito da Comunicação e mestre em Liderança.
Foi jornalista do Público durante mais de uma década, tendo sido correspondente na Alemanha, e da Deutsche Welle. Como pivô e repórter, tem uma vasta experiência em cenários de crise e guerra. Depois de Domadora de Camaleões (2016) e Mulheres na Guerra (2023).