A minha personalidade de tipo A ainda se incomoda com a ideia de tempo livre não planeado. Mesmo já tendo ultrapassado os 60, continuo muito orientada por objectivos.
Por um lado, isso é positivo – acordo todos os dias com um sentido de propósito. Mas, por outro, estar constantemente ocupada não é uma forma saudável de viver plenamente. Por isso, tive de aprender uma nova arte: a arte de dizer “não”.
Ser convidado(a) para integrar direcções de associações, bibliotecas ou organizações pode ser recompensador e até lisonjeiro. O mesmo se aplica a trabalho voluntário ou envolvimento em causas políticas.
É óptimo sentir que estamos a retribuir algo à comunidade… até ao momento em que aceitamos demasiado e nos sentimos sobrecarregados.
E que dizer dos almoços e passeios com amigos? Muitos dos meus amigos já não trabalham, por isso surgem convites constantes para cafés, almoços, caminhadas. Adoro todas essas oportunidades de convívio — mas não consigo dizer “sim” a todas. Então, como dizer “não”?
Se, no fundo, sente que está cansado(a) e sem espaço para mais nada, aqui está o que pode fazer:
Forme um círculo com os lábios. Coloque a língua atrás dos dentes e diga o som “n”, seguido de “ão”. Termine com um sorriso e diga: “Obrigada/o.”
Agora repita: “Não, obrigada/o.”
Se disser não a esse cargo ou a esse almoço, prometo-lhe que o mundo não vai acabar — nem será o último convite que receberá.
Quando diz não a certos convites e cria espaços livres no seu dia, está a abrir espaço para rejuvenescimento.
Rejuvenescer pode significar tomar um banho quente e demorado, dar um passeio sozinho(a) no parque, sentar-se ao sol a ver os esquilos, beber uma chávena de chá enquanto escreve no diário, ou simplesmente fazer uma sesta.
Esses espaços em branco permitem-nos processar e integrar os acontecimentos da nossa vida. Sem tempo para respirar, tornamo-nos dispersos — até um pouco frenéticos.
Quando não tem o dia completamente preenchido, sobra tempo para refletir. O mundo é barulhento e complexo, e entre o ritmo acelerado e o rebuliço, é fácil perdermos partes importantes de nós.
Ter momentos de silêncio permite-nos regressar ao essencial — aquilo que realmente valorizamos.
Pessoalmente, gosto de acender uma vela de manhã, sentar-me com uma chávena de chá e simplesmente observar a chama.
Penso nas coisas que importam na minha vida, e também naquilo que posso largar. Muitas vezes, sou envolvida por uma espiral de emoções — aquelas que vêm das pessoas, lugares e memórias que me são mais queridas.
Tenho uma amiga que nunca diz não — e, como resultado, acumula histórias sobre situações que correram mal. Um dia perguntei-lhe: “Porque dizes sim quando, no fundo, queres dizer não?”
As respostas foram as habituais:
— “Sinto-me culpada se disser que não.”
— “Se eu não fizer, quem fará?”
Se também sente dificuldade em recusar um pedido ou convite, pratique um discurso interno positivo depois de dizer “não”.
Por exemplo:
“Estou orgulhosa/o por ter dito não. Sei que aceitar mais uma tarefa iria deixar-me esgotada/o. Estou contente por ter escolhido cuidar de mim. Disse não à minha amiga, mas continuo a gostar e a valorizá-la — e sei que ela sente o mesmo.”
Percebe a ideia?
Dizer “não” não significa que não se importa com os outros. Significa, sim, que é um ser humano com limites — e que está disposto(a) a respeitar esses limites para viver de forma mais equilibrada e saudável.