Sim, a mesma hormona que conhecemos por ser libertada pelo pâncreas — a insulina que falta nas pessoas com diabetes tipo 1 e que falha nas pessoas com diabetes tipo 2. Pois bem, o poder da insulina vai muito mais além do que pensávamos.
Desde o final dos anos 1970 que se sabe que o cérebro contém insulina — mas esta informação foi rapidamente esquecida. Um estudo de 1978 mostrou que os níveis nos cérebros de ratinho são “pelo menos 10 vezes superiores aos do plasma… e em algumas regiões até 100 vezes mais” do que o que se encontrava no sangue circulante.
Nas décadas seguintes, acreditou-se que essa insulina cerebral vinha exclusivamente do pâncreas. Ora, sugerem-se agora várias fontes locais de produção de insulina no cérebro — com funções específicas e diferenciadas da insulina no sangue.
A investigação atual aponta para, pelo menos, seis tipos de células no cérebro com capacidade de produzir insulina:
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Neurogliaformes, localizadas em áreas ligadas à memória e aprendizagem. Aqui, a produção depende diretamente da glicose, tal como acontece com as células beta do pâncreas — sugerindo uma função cognitiva.
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Progenitores neurais, que surgem em zonas que geram neurónios ao longo da vida.
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Células no bulbo olfativo, o centro responsável pelo sentido do olfato.
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Neurónios de perceção de stress no hipotálamo, região que regula o crescimento e o metabolismo. A insulina local contribui para níveis adequados de hormona de crescimento — e em ratinhos, a sua redução conduziu à baixa estatura.
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Células da plexo coróide, no epitélio dos ventrículos cerebrais, responsáveis pela produção do líquido céfalo‑raquidiano. Recentemente descobriu‑se produção de insulina aqui em ratinhos, sugerindo que a hormona pode circular por todo o cérebro.
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Neurónios no tronco cerebral posterior (hindbrain), com capacidade de reduzir o apetite, sugerindo um papel na regulação do comportamento alimentar.
Importa sublinhar que esta insulina não é libertada para o sangue — não regula a glicémia. Em vez disso, atua localmente:
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Aparecimento de apetite: insulina da plexo coróide ou do hindbrain demonstrou influenciar diretamente a sensação de fome em estudos com ratinhos.
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Preservação cognitiva: a insulina cerebral parece proteger a função cognitiva ao longo do envelhecimento. No Alzheimer, chamada por alguns “diabetes tipo 3”, as células perdem a capacidade de usar glicose — um défice que a administração nasal de insulina em algumas investigações tentou amenizar, com resultados promissores.
Mais insulina no cérebro é sempre melhor?
Nem sempre. Estudos em mulheres mostram que níveis elevados de insulina no líquor — fluido cerebral — podem associar‑se a uma pior função cognitiva. Isto significa que existe um equilíbrio delicado a manter.
Descobrir que o cérebro fabrica insulina muda a forma como pensamos o metabolismo, o envelhecimento e as doenças neurológicas. Novas terapias, como a administração intranasal, estão a ser exploradas — e são possíveis apenas porque os investigadores começaram a valorizar fontes de insulina que ninguém conhecia.
Talvez em breve nos livros de medicina surja uma nova secção sobre insulina cerebral…
A insulina cerebral foi ignorada durante quase cinco décadas porque, na altura, os cientistas acreditavam que toda a hormona vinha do pâncreas. Agora, à medida que aprendemos mais sobre estas seis fontes cerebrais, novas portas se abrem para terapias protetoras do cérebro e para uma nova compreensão da diabetes e envelhecimento.