O estudo revela que muitas pessoas, antes mesmo de serem diagnosticadas com cancro do intestino, recorrem durante meses a tratamentos para hemorroidas ou problemas digestivos, o que pode ser um sinal precoce de que algo mais grave está a acontecer no organismo.
A equipa de cientistas descobriu que o aumento súbito na compra de medicamentos como laxantes ou cremes para hemorroidas pode ocorrer até 15 meses antes do diagnóstico formal de cancro do intestino. Estes padrões sugerem que muitos doentes estão a tentar tratar os sintomas em casa, adiando a ida ao médico — o que pode atrasar um diagnóstico precoce e reduzir drasticamente as hipóteses de sobrevivência.
“Estes padrões de compra podem servir como alerta para os médicos investigarem mais cedo a possibilidade de cancro ou reconhecerem sintomas que podem estar a ser negligenciados”, explica o Professor Chris Cardwell, epidemiologista oncológico da Universidade de Belfast.
O novo estudo britânico está a analisar os registos de prescrição médica de milhares de doentes, com o objetivo de encontrar padrões de medicamentos associados não só ao cancro do intestino, mas também a outros sete tipos de cancro: pâncreas, estômago, ovários, pulmões, mieloma múltiplo e linfoma não-Hodgkin.
O projeto recorre a dados do Secure Anonymised Information Linkage Databank da Universidade de Swansea, que cruza prescrições médicas com diagnósticos de cancro para identificar alterações no consumo de medicamentos que possam funcionar como sinais de alarme.
O diagnóstico precoce pode salvar vidas. Mais de 90% dos doentes com cancro do intestino diagnosticados na fase inicial sobrevivem mais de cinco anos. Mas essa taxa desce para apenas 10% quando o diagnóstico é feito numa fase avançada, quando o cancro já se espalhou para outros órgãos.
“Diagnosticar o cancro o mais cedo possível é essencial para garantir tratamentos mais eficazes e aumentar as probabilidades de recuperação”, reforça o Professor Cardwell.
Especialistas alertam que sangue nas fezes (especialmente escuro, semelhante a alcatrão), dor abdominal persistente, perda de peso inexplicável, fadiga extrema, dificuldade em respirar e alterações persistentes nos hábitos intestinais podem ser sintomas de cancro do intestino. Uma obstrução intestinal causada por um tumor pode também provocar inchaço, cólicas, obstipação e vómitos.
Como estes sinais são muitas vezes confundidos com problemas digestivos ou hemorróidas, muitos doentes adiam a consulta médica, confiando em soluções de farmácia — o que pode ser fatal.
Outro dado preocupante é o aumento acentuado de casos de cancro do intestino em pessoas com menos de 50 anos. Entre 2007 e 2017, os casos em jovens adultos aumentaram 3,6% por ano no Reino Unido, uma tendência que tem intrigado os especialistas.
As causas? Vão desde dietas pobres em fibras, sedentarismo, obesidade crescente, poluição e até a possível influência de microplásticos presentes na água potável.
A esperança da comunidade científica é que, ao analisar padrões de medicamentos utilizados antes do diagnóstico, os médicos consigam identificar sinais precoces de cancro — mesmo antes dos sintomas mais graves se manifestarem. O objetivo final é que esta abordagem seja integrada nos sistemas de saúde, permitindo rastreios mais inteligentes e menos invasivos.
“Mesmo que não seja sempre cancro, qualquer alteração persistente nos hábitos intestinais ou hemorragia deve ser avaliada por um médico. O autodiagnóstico com produtos de farmácia pode atrasar um tratamento vital”, alerta o oncologista Peter Murchie, também envolvido no estudo.
Se costuma usar com frequência laxantes, cremes para hemorroidas ou outros medicamentos para distúrbios intestinais, fique atento. Estes produtos não são perigosos por si só, mas o uso prolongado e repetido pode indicar que o seu corpo está a tentar avisá-lo de que algo mais sério se passa.
Se notar sintomas persistentes, não adie a ida ao médico. O tempo pode fazer toda a diferença.