Passados 47 anos, ninguém que tenha visto a primeira telenovela exibida em Portugal se esqueceu da envolvente história de amor vivida entre a bela, ingénua e analfabeta Gabriela (interpretada por Sónia Braga) e o seu desajeitado patrão de origem libanesa, Seu Nacib (Armando Bógus).
Mas não foi só o amor que falou mais alto. Na novela foi retratado o confronto, na cidade de Ilhéus, entre os poderosos e retrógrados senhores da terra do cacau, liderados pelo Coronel Ramiro Bastos (Paulo Gracindo), e os interesses emergentes das gentes ligadas ao comércio e às profissões liberais, que tinham no advogado Mundinho Falcão (José Wilker) um esclarecido defensor.
A telenovela era baseada no romance ‘Gabriela, Cravo e Canela’, escrita por Jorge Amado.
Realizada em 1975 por Walter Avancini, constituiu um enorme êxito em Portugal, traduzido em grandes audiências, na adoção de nomes e de palavras usadas no Brasil, assim como de novas formas de relacionamento social e de comportamento.
Apesar de reproduzir um estilo antiquado (anos 20), o corte de cabelo da personagem Malvina (Elizabeth Savalla) passou a ser visto com alguma frequência nalgumas cidades portuguesas, assumindo um toque de modernidade e inconformismo.
Com ‘Gabriela’ as ruas despovoavam-se na hora das transmissões. Portugal parava diariamente à hora da telenovela, o parlamento fechou mais cedo nos derradeiros dias da sua exibição, todos os programas se organizavam em redor do episódio do dia.
As interpretações de Sónia Braga, Paulo Gracindo, Roberto Bonfim (Chico Chicão), Eloísa Mafalda (Maria Machadão), Nívea Maria (Jerusa), Elizabeth Savalla, Fúlvio Stefanini (Tonico Bastos) e José Wilker, entre outros, eram muito admiradas pelo público português.
A telenovela ‘Gabriela’ foi comprada em 1976 por Carlos Cruz, quando este desempenhava as funções de diretor de programação da RTP, mas a estreia de exibição, em 16 de Maio de 1977, ocorreu já sob o mandato de José Nisa.