A comunidade científica sabe com cada vez mais certeza que o sucesso do combate aos tumores mais agressivos passa por atacar vários lados ao mesmo tempo para evitar, a todo o custo, a fuga de algumas células tumorais que permitem a progressão da doença.
Duas novas investigações independentes publicadas simultaneamente na revista The Lancet investigam esta estratégia no contexto do cancro do fígado e confirmam que a combinação de duas terapias direcionadas com uma intervenção tradicional que corta as vias de nutrição do tumor atrasa a progressão da doença.
Os dois estudos, ambos ensaios de fase III, avaliam diferentes combinações de medicamentos, mas com uma estratégia comum: atacar o tumor em diferentes frentes para maximizar a eficácia.
Uma das investigações, chamada LEAP-012, consiste numa abordagem terapêutica de três vias contra um tumor em estágio intermediário que, embora não tenha se espalhado para outras partes do corpo, tem um tamanho que já impossibilita sua remoção: o carcinoma hepatocelular não metastático irressecável. Num ensaio clínico, investigadores da Idibaps-Clínic de Barcelona demonstraram que a adição de lenvatinib (uma terapia molecular) e pembrolizumab (uma imunoterapia) à quimioembolização tradicional (bloqueio do fornecimento de sangue ao tumor) melhora a sobrevivência livre de progressão. Ou seja, o tempo que o paciente passa vivo sem progressão tumoral. Os resultados do ensaio clínico, admitem os cientistas, são modestos – a sobrevida livre de progressão vai de 10 meses apenas com quimioembolização para 14,6 com a injeção tripla – mas marcam um ponto de viragem num tipo de tumor para o qual não há inovações terapêuticas.
No outro estudo (EMERALD-1), liderado pela Clínica Universidad de Navarra (CUN), os investigadores também testaram uma estratégia de três vias no cancro do fígado não operável: num ensaio com 616 pacientes, acrescentaram a quimioembolização convencional a um combinação de durvalumabe (uma imunoterapia) e bevacizumabe (um medicamento que bloqueia o crescimento dos vasos sanguíneos) e descobriu que também retardou a progressão da doença: a combinação das duas terapias direcionadas atrasou a progressão do câncer em 6,8 meses em comparação com os participantes do estudo que receberam placebo.