Foi jornalista da RTP durante 25 anos e, depois disso, assessora de imprensa política. Quais as razões que a levaram a mudar radicalmente de área e a investir num negócio próprio? Estive 25 anos na RTP, sendo que nos dois últimos já estava requisitada e a trabalhar com Carlos Moedas, que na altura era secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho. Carlos Moedas era o governante que tinha por missão acompanhar o Programa de Assistência Económica e Financeira da Troika. Eu, sendo sua assessora de Imprensa, tive o privilégio de acompanhar este trabalho de perto. Foram três anos muito intensos, mas em que aprendi bastante.
Rescindi com a RTP em 2013, um ano antes de terminar o Programa da Troika. Foi uma decisão pensada e muito refletida, não só a nível profissional como pessoal, pois tenho duas filhas que estão a estudar e ainda dependem de mim. Por isso, tinha de pensar primeiro nelas e deixar uma empresa ao fim de 25 anos não é uma decisão fácil. Mas como em quase tudo na vida, não demoro muito tempo a decidir. Coloco todos os cenários e tento sempre ter um plano B. Como lhe digo, a minha responsabilidade nesta decisão era maior por causa da Maria e da Madalena. Ao mesmo tempo, percebi que tinha espaço e capacidade para fazer outras coisas na área da comunicação. Entreguei a carteira profissional em 2011 e não a fui buscar. Tenho saudades de quando era jornalista, é verdade que tenho. Mas tudo tem um tempo e o meu agora é outro.
Continuo ligada à comunicação como assessora. Faço a gestão de várias contas. Também dou formação na área do media training. Há muito para fazer nesta área e quando digo fazer, digo fazer bem feito. Há muitas formações nesta área, mas há poucas com qualidade. Comunicar hoje em dia é fundamental, mas ainda há pessoas que não dão valor a este poder tão grande que é saber comunicar bem, em muitos casos, nem os políticos. E comunicar bem não é só saber falar ou escrever, é também imagem, postura, é perceber como e quando falar com os media, que é normalmente o mais difícil.
Comunicar é uma coisa muito vasta que se aprende e trabalha de acordo com cada pessoa e os seus objetivos. O que serve para um não serve necessariamente para o outro. Nesta área tive a sorte de aprender muito no estrangeiro e desde aí que procuro estar atualizada e atenta ao que se faz lá fora.
Como tem sido esta experiência de empreendedorismo depois de tantos anos a trabalhar por conta de outrem?
Trabalhar por conta própria exige também fazer uma boa gestão comercial e financeira. Quando trabalhamos numa empresa que não a nossa, temos a preocupação de fazer bem feito o nosso trabalho, mas as outras áreas têm outros responsáveis. Por conta própria, temos de fazer tudo bem feito. A empresa de comunicação chama-se Pyrsia e foi criada pelo meu marido. É também gerida por ele, muito bem gerida por sinal, o que me poupa a mim nessa tarefa.
Nesta empresa de comunicação não se limita a trabalhar a área política. Que diferenças identifica entre trabalhar a comunicação de empresas em oposição à assessoria política?
A assessoria política é mais intensa, porque é mais polémica e controversa, ou não fosse política. Gosto muito, mas neste momento só pontualmente é que fazemos assessoria política. Na área política procuram-nos essencialmente para fazer media training.
As contas que temos são fora dessa área. Temos algumas na área da saúde, do turismo e produtos com objetivos comerciais. Há ainda situações que requerem gestão de imagem e conflitos, o que é sempre mais desafiante e nos obriga a prever o imprevisível e a antecipar e gerir as situações mais improváveis.
Trabalha também na área dos eventos. Era já uma ideia antiga, ou detetou uma oportunidade e resolveu então investir?
A Fábrica das Festas, a loja que criámos no Parque das Nações, foi ideia minha, porque há já uns anos, quando as minhas filhas eram pequenas, senti que havia falta de artigos para decorar festas. Houve um conjunto de circunstâncias na altura que fez com que nos meus tempos livres começasse a organizar festinhas infantis, por isso esta área não é completamente desconhecida para mim. Depois de “convencer” o meu marido (não foi difícil) decidimos avançar. Na Fábrica das Festas a gestão está mais a meu cargo, mas é sempre partilhada com ele. E muitas vezes o ponto de vista dele é muito melhor do que o meu. Adoro trabalhar e tenho a sorte de fazer o que gosto em duas áreas diferentes. Tenho muitas responsabilidades, mas faço a gestão do meu tempo quase sempre como quero. Tenho fases em que trabalho muito, mas também posso tirar férias e fazer fins de semana prolongados quando quero. Tenho mais responsabilidade, mas mais liberdade e sobretudo mais qualidade de vida.
As suas experiências profissionais mais recentes não afastam da memória dos portugueses o seu trabalho na RTP. Ponderou ou ainda pondera regressar ao jornalismo?
Não, não penso voltar ao jornalismo. Não só porque não faz parte dos meus planos, mas também porque tenho a noção de que o meu tempo já passou. Há muitos jovens com talento a aparecerem. Quero continuar a ser dona da minha vida.
Mudar de vida aos 50. Vale a pena?
Mudar de vida vale sempre a pena, independentemente da idade. Claro que, quanto mais velhos somos, mais dificuldades há, mas no meu caso valeu a pena e conheço muitos outros bons exemplos. Também conheço situações que não correram bem e ninguém está livre disso. Mas ficar acomodada, nem pensar. Antes de decidir coloquei em cima da mesa os piores cenários e para os piores cenários encontrei soluções. Isso permitiu-me avançar. Mas tenho de referir uma coisa muito importante. A mudança de vida profissional, por acaso, coincidiu com a mudança de vida pessoal e não posso deixar de dizer que todas estas mudanças acabaram por ser construídas a dois. O meu marido e eu apoiamo-nos incondicionalmente e, quando assim é, tudo fica mais fácil.