Até 23 de março, pode visitar, de terça-feira a sábado, das 14h00 às 18h00, a primeira exposição de Eduard Arbós. O artista espanhol esteve retirado dois anos, entre 2015 e 2017, numa luta para garantir que não perdia o seu olho direito.
A partir de amanhã, no Círculo Sereia do CAPC, em “A Shot in the Eye”, Arbós mostra numa espécie de escultura, os frascos de colírio que tinha que tomar; os cartões-de-visita do hospital que recebia, com datas e horas numa obra visual; trabalhos em grafite sobre o olho e um calendário com pontos negros em todas as visitas e cirurgias feitas em dois anos, semelhante à escrita de braille.
O artista revela, também, o quarto, onde tinha de estar isolado dias após as operações; os seus olhos junto a outros num caderno para aprender a desenhar. Também estão presentes obras referentes ao cinema e aos movimentos da OP Art (arte ótica) e dadaísmo. Esta exposição questiona a perceção, a representação e a própria construção da imagem.
Experiência traumática transformada em arte
Em 2015, o diagnóstico de um descolamento da retina no olho direito muda a vida de Eduard Arbós. Após a primeira cirurgia, a previsão apontava para uma recuperação total da visão.
Contudo, um segundo descolamento da retina criou uma espécie de membrana, que ameaçou o olho direito do artista catalão. Durante dois anos, num processo duro e longo, não pôde desenhar nem pintar. Mas, a angústia vivida nesse período foi aproveitada e partilhada num género de guião cinematográfico resumido, entre escrita e desenho. O autor dificultou a leitura para que o público, que queira ler, tenha uma melhor perceção da mensagem. Caso contrário, o guião aparece convertido em obra visual na exposição do CAPC.
O artista é natural de Barcelona, mas vive entre Lisboa e a cidade catalã há 14 anos. Após os dois anos de convalescença e com o olho direito muito lesionado – apenas vê umas sombras – Eduard Arbós entrou num estado de ansiedade com a ideia de voltar a trabalhar e não saber o que poderia fazer.