No próximo dia 7 de Dezembro Gregório Duvivier volta a pisar os palcos portugueses. Depois da aclamação em 2019, o co-criador da Porta dos Fundos volta a Portugal para uma digressão de Sísifo.
Sísifo é um monólogo interpretado por Gregório Duvivier e escrito pelo próprio em parceria com Vinícius C30alderoni, coautor e diretor da peça, que interliga a mitologia grega aos absurdos do quotidiano, do mundo digital à política brasileira.
Sísifo, a primeira colaboração cénica entre Gregorio Duvivier e Vinicius Calderoni, é uma investigação cénica de como transpor para o palco a linguagem do gif e do meme, pensar como a dramaturgia pode dar conta desta modalidade da comunicação que, com uma velocidade assustadora, se torna hegemónica no ocidente, moldando a cultura e o comportamento. Também é um espetáculo pensado como resposta artística a um momento histórico em que a desumanização domina a política e a inteligência artificial suplanta o calor dos corpos.
Há uma evidente e estreita associação entre o aumento exponencial da intolerância e do desprezo pela alteridade com a crescente robotização do eleitor e do internauta, que passa a ser um repetidor de memes e notícias fake. Repetidores autómatos, não sabemos mais diferenciar o que é realidade, sonho, meme ou fake news. Sísifo quer tentar reestabelecer estas fronteiras, e, neste movimento, reestabelecer e reconstruir nossa própria sanidade mental.
Inspirado no mito grego de Sísifo – o homem que carrega diariamente a sua pedra morro acima para vê-la rolar ladeira abaixo e começar tudo de novo por toda a eternidade –, o texto assinado pela dupla brasileira recria este mito e relaciona a mitologia grega com o caótico mundo globalizado e “híperconectado”, trazendo a palco temas contemporâneos e urgentes para falar e refletir, sobretudo sobre a condição humana. Não é, assim, uma recriação fiel da história que o mito veicula, mas sim uma inspiração norteadora, um leitmotiv que se apresenta como fio condutor dentro de uma peça livre, ensaística e essencialmente contemporânea. A escolha do mito de Sísifo parece ainda mais interessante quando posta em perspetiva porque parece ser, de algum modo, a matriz do teatro, a arte da repetição infinita, por essência.
Albert Camus em seu célebre ensaio acerca do mito de Sísifo, Le mythe de Sisyphe, contraria as expectativas do senso comum e diz que imagina um Sísifo feliz dentro da sua tarefa eterna de carregar a pedra morro acima. Duvivier e Calderoni concordam e almejam construir, em Sísifo, um espetáculo em que a repetição teatral consiga fazer-nos sair do ciclo doentio de repetição patológica da realidade.
Em cena, o ator repete o mesmo movimento: caminha de um ponto a outro do palco. A cada início de uma nova cena, ele regressa ao ponto inicial, como num gif, formato de imagem altamente difundido no universo digital.