O cubo de Rubik: Matemática vs homem vs natureza

O professor húngaro Ernő Rubik desenvolveu o cubo de Rubik em 1974, em grande parte para a sua própria diversão intelectual. No início, o quebra-cabeças parecia uma moda dos anos 80. Entre 1980 e 1982, o seu distribuidor vendeu 150 milhões de cubos. Mas, como uma estrela tecnicolor com morte anunciada, rapidamente desapareceu na obscuridade.

No entanto, o novo milénio assistiu ao ressurgimento do cubo; o brinquedo mais vendido de todos os tempos. Estima-se que 60% da população mundial já tenha manuseado um (mais do que o iPhone).

E poucas são as empresas que acreditam nos seus produtos com o fervor quase evangélico da empresa Rubik, que movimentou aproximadamente 218 milhões de euros em novidades desconcertantes no ano passado.

Do ponto de vista comercial, a inescrutabilidade simples do cubo é um benefício. A Mattel, veja-se, passa a maior parte do tempo a defender a Barbie de pais, educadores e activistas preocupados, que criticam as proporções da boneca, temendo a sua influência na imagem corporal de crianças humanas reais.

Já os cubos de Rubik, pelo contrário, recebem poucas reclamações. A geometria, ao que parece, ainda permanece não politizada. As cores, embora brilhantes, são estritamente regimentadas, emprestando-lhes o efeito calmante de uma pintura de Mondrian. Na cultura popular, o cubo é retratado como a chave do universo; muito à semelhança do que Will Smith fez no filme “Em Busca da Felicidade”. Não admira, numa era de caos absoluto, que este “ídolo” de plástico seja cada vez mais o centro de encontros vagamente religiosos.

Como o New York Times informou recentemente, muitos adolescentes, quase todos do género masculino, que poderiam estar socialmente à deriva — talvez no espectro do autismo, ou com distúrbios de hiperatividade, encontraram aceitação e estímulos no mundo do cubing competitivo.

Bem vistas as coisas, o cubo de Rubik é, fundamentalmente, algorítmico. Algumas pessoas podem resolvê-lo através de tentativa e erro, mas hoje a maioria aprende com um manual de instruções, ou através de tutoriais no YouTube.

A facilidade em lidar com algoritmos é cada vez mais importante num mundo dominado pela ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês). A lógica do cubo de Rubik foi, afinal, usada por programadores de software para criar esquemas de criptografia durante décadas. Há 43 quintiliões de combinações possíveis, e apenas uma solução.

Este jogo 3D também pode ajudar os alunos a aprimorar as suas habilidades de pensamento espacial, de acordo com os investigadores. Sendo que estas estão intimamente ligadas ao sucesso em qualquer campo STEM. «Pensar espacialmente», segundo as Academias de Ciência, Engenharia e Medicina, «implica conhecer o espaço, a representação e o raciocínio». Este é o tipo de conhecimento que utilizamos todos os dias, quando cronometramos as nossas deslocações ou fazemos desvios, seguindo-nos por mapas e, sim, também ao resolver os cubos de Rubik.

Nos campos STEM, o pensamento espacial é essencial para compreender a dupla hélice do ADN ou projectar as asas de um novo avião. Há muitas formas de aprimorar essas habilidades, como construir aeromodelos ou até mesmo praticar um desporto; cada uma destas actividades está repleta de lições de física.

Não se sabe que outras habilidades podem advir da resolução de um cubo de Rubik, mas uma coisa é certa: no momento em que todas as peças encaixam, em vez das preocupações normais do quotidiano, a maioria reporta sentir-se preenchido com uma sensação de potencial infinito.

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