Há várias décadas que Robert M. Sapolsky, importante neurobiólogo e professor na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos da América, tenta responder de forma satisfatória a esta pergunta. O especialista deu um passo decisivo em 2018, quando publicou o bestseller Comportamento, um trabalho revelador sobre as razões que levam os humanos a agirem bem ou mal e sobre o papel desempenhado pela química e pela física nessas mesmas ações.
Agora, Sapolsky decidiu ir mais longe. Em Determinado. Uma ciência da vida sem livre-arbítrio, o seu mais recente livro, o cientista defende que não existe livre-arbítrio e que o comportamento humano é determinado pela «maneira como a biologia, sobre a qual não temos qualquer controlo», interagiu com o ambiente, sobre o qual também não temos qualquer controlo, fazendo de nós «o que somos». «Não somos nem mais nem menos do que aquilo que a nossa sorte biológica e ambiental cumulativa, a qual nunca controlámos, fez de nós», declara o neurobiólogo norte-americano.
Baseando-se nos inúmeros estudos que realizou ao longo dos anos em «campos diferentes, todos associados ao comportamento», e comparando a ciência do comportamento com o que diferentes pensadores têm a dizer sobre a questão do livre-arbítrio, Sapolsky mostra de forma bem-humorada e eloquente como todos estão errados, enquanto procura convencer os leitores de que não existe livre-arbítrio.
A conclusão parece demolidora, mas Sapolsky garante que não há nada de trágico numa vida assim. «Assim que começamos a adotar a ideia de que cada aspeto do comportamento tem causas anteriores determinísticas, passamos a observar um comportamento e podemos apontar o motivo por que ele ocorreu», explica, garantindo que a aceitação do determinismo não tem de ter consequências desastrosas, «mesmo que à partida assim pareçam». Pelo contrário: poderá produzir um mundo muito mais humano.
Com tradução de Luís Oliveira Santos, Determinado. Uma ciência da vida sem livre-arbítrio, de Robert M. Sapolsky, chega às livrarias a 19 de setembro.