Faleceu António Barbedo de Magalhães, aos 82 anos. Professor Emérito da Universidade do Porto, foi uma figura incontornável no ensino da engenharia e uma voz forte na defesa da independência de Timor-Leste durante o período de ocupação indonésio no território.
A sua ligação à causa timorense remonta a 1974, ano em que cumpriu o serviço militar em Timor. Já doutorado em Ciências Aplicadas pela Universidade de Ghent, na Bélgica, em 1973, na área da Metalurgia, coordenou o trabalho de uma equipa luso-timorense que elaborou um projeto para a reestruturação do ensino em Timor, com vista a uma eventual independência a médio prazo.
Membro da Comissão para os Direitos do Povo Maubere, da Associação Paz e Justiça para Timor-Leste e da Comissão Organizadora das Jornadas de Timor da Universidade do Porto, além de ter organizado numerosas conferências em Portugal, Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Canadá, Brasil e outros países, é autor de sete livros sobre Timor-Leste, o último dos quais, editado pela Afrontamento em 2007, tem 3 volumes (1000 páginas) e cerca de 10.000 páginas em documentos anexos, sobre a história política de Timor-Leste desde 1942 até 2007.
Em 2017, a Biblioteca da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) acolheu a apresentação pública dos acervos documental e bibliográfico relacionados com a história de Timor-Leste e com a política internacional acumulados ao longo de décadas pelo Professor António Barbedo de Magalhães. A iniciativa promovida pelo Serviço de Documentação e Informação da FEUP surgiu na sequência de um tratamento inicial de preservação do acervo documental realizado no âmbito de um projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Foi condecorado pelo Estado Português (Ordem do Infante D. Henrique) e pelo Estado Timorense (Ordem de Timor-Leste) pelas suas ações em defesa dos direitos do povo timorense. Desde 1989, teve nessas atividades o apoio da Universidade do Porto, a qual representou em múltiplas iniciativas em diversos países, levando a questão de Timor até ao ‘Caucus’ dos Direitos Humanos do Congresso Americano.
A pedagogia como base no ensino da engenharia
Começou a lecionar no Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP em 1968, ano em que terminou o curso. Antes disso, foi membro da Comissão Instaladora da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que nunca conseguiu legalizar-se durante a vigência do Estado Novo. Formou-se em Engenharia Mecânica, em julho de 1968, com 17 valores, apesar de ter trabalhado durante parte do curso como desenhador e, depois, na fundição de uma empresa metalomecânica.
Doutorou-se em 1973, na área da Metalurgia, com a Máxima distinção. Foi professor da FEUP até à sua jubilação, quando fez 70 anos, em fevereiro de 2013, e diretor de um centro de investigação e apoio à indústria de fundição, do INEGI (instituto de interface entre o Departamento de Engenharia Mecânica da FEUP (DEMec) e a indústria), criado em 1986 quando era diretor do DEMec.
Autor de cinco patentes de invenção na área das tecnologias da fundição, propôs em 2004 uma componente pedagógica inovadora na FEUP, de projetos liderados por estudantes e realizados por equipas multidisciplinares de estudantes de diferentes cursos e idades, podendo incluir alunos do ensino secundário. Estes projetos, com a designação de PESC (Projetar, Empreender, Saber Concretizar), envolveram centenas de estudantes e dezenas de professores da FEUP e numerosas pessoas ligadas a empresas e organismos públicos. Em 2008 estes projetos interdisciplinares foram generalizados a toda a Universidade do Porto, com a designação de Projetos Lidera e em 2008/09 envolveram mais de 450 estudantes, dos quais cerca de 80 do ensino secundário.
Dirigiu o Programa Doutoral em Segurança e Saúde Ocupacionais da U.Porto, fruto da colaboração de doze das catorze faculdades da Universidade do Porto, e do qual resultaram, em dois anos, mais de 100 publicações dos respetivos estudantes.
Ciclo de Debates “Novos Paradigmas”
Em 2010, com mais dois colegas da Faculdade de Engenharia, Rui Azevedo e Alcibíades Guedes, Barbedo Magalhães propôs a realização semestral de debates sobre “Novos Paradigmas” sobre os temas mais diversos. Entre março de 2012 – data em que foi lançado publicamente o seu e-book «A evolução dos modelos educativos e a formação de engenheiros-cidadãos para o mundo» – e finais de 2016 grande parte destes debates teve como tema central a Educação.
Na sequência destas iniciativas, foi criada, a Rede para o Desenvolvimento de Novos Paradigmas da Educação (RedeNPEdu), mediante um Memorando de Entendimento, com sede na Faculdade de Engenharia.