José Celso Martínez Correa, conhecido como Zé Celso, estava internado nos cuidados intensivos desde a madrugada de terça-feira, quando um incêndio provocado por um fogão elétrico lhe queimou mais de metade do corpo.
A morte do dramaturgo, figura central do teatro brasileiro durante mais de meio século, gerou reações imediatas de pesar no mundo cultural e político, incluindo o Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
“O Brasil se despede hoje de um dos maiores nomes da história do teatro brasileiro, um dos seus mais criativos artistas. José Celso Martinez Correa, ou Zé Celso, como sempre foi chamado carinhosamente, foi por toda a sua vida um artista que buscou a inovação e a renovação do teatro”, escreveu na rede social Twitter o chefe de Estado.
“Corajoso, sempre defendeu a democracia e a criatividade, muitas vezes enfrentando a censura. Transformou o Teatro Oficina em São Paulo em um espaço vivo de formação de novos artistas. Deixa um imenso legado na dramaturgia brasileira e na cultura nacional. Meus sentimentos aos seus familiares, alunos e admiradores. A trajetória de José Celso Martinez marcou a história das artes no Brasil e não será esquecida”, acrescentou Lula da Silva.
No final dos anos 1950, quando ainda era estudante de Direito, Zé Celso fundou o Teatro Oficina, uma companhia que procurava adaptar peças clássicas de dramaturgos como Anton Chekhov e William Shakespeare à realidade social e política brasileira.
Em 1967, em plena ditadura militar, o grupo causou grande alvoroço com a montagem de “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, peça que denunciava satiricamente as relações capitalistas e utilizava linguagem violenta e grotesca.
O espírito insubordinado da companhia entrou várias vezes em choque com o aparelho da ditadura. Grupos paramilitares incendiaram o teatro onde as peças eram apresentadas na década de 1960, e o próprio Zé Celso viveu exilado em Portugal entre 1974 e 1979.
Na década de 1990, de volta ao Brasil, o dramaturgo colaborou com a arquiteta vanguardista Lina Bo Bardi, conhecida por projetar o icónico prédio do Museu de Arte de São Paulo, para construir um espaço digno do tipo de teatro experimental praticado pela companhia.
Há apenas um mês, o Teatro Oficina foi palco do casamento de Zé Celso com o ator Marcelo Drummond, seu companheiro de quatro décadas.