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Opinião: Será verdade que esta cirurgia não é para homens?

17 Julho 2024
Forever Young

Artigo de opinião de Gil Faria, cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde Professor da FMUP Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

A obesidade é a doença mais prevalente em todo o mundo, com quase mil milhões de pessoas afetadas, e é responsável por cerca de 10% de todos os gastos em saúde nos países desenvolvidos. Tem efeitos negativos na saúde e está associada a um aumento de múltiplos riscos, incluindo de mortalidade. Afeta igualmente homens e mulheres e a sua incidência tem aumentado em todas as faixas etárias. No entanto, o sexo masculino

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Gil Faria, cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde

desenvolve mais doenças associadas à obesidade como a diabetes tipo 2, hipertensão arterial, alterações no colesterol ou apneia do sono.

A cirurgia metabólica é o tratamento com melhor resultado a curto e longo prazo. Tem demonstrado ser uma intervenção extraordinariamente segura, com uma ótima relação custo-eficácia e com o mesmo grau de sucesso em ambos os sexos, mas no acesso à cirurgia bariátrica existe um claro desequilíbrio de géneros, sendo que cerca de 80% dos doentes operados são mulheres.

Estas parecem estar mais alertas para os problemas de saúde associados à obesidade. São muito mais propensas a serem submetidas a cirurgia mais cedo na vida, enquanto os homens esperam muito até terem mais comorbilidades. Diversos estudos demonstram que as pacientes do sexo feminino submetidas a cirurgia são mais jovens e têm menor carga de doença.

A redução da qualidade de vida das mulheres, principalmente relacionada com a autoestima, vida sexual e défices de mobilidade, poderá afetar a sua decisão de procurar a cirurgia metabólica. Apesar de apresentarem quase sempre um menor IMC, as mulheres jovens e caucasianas são as que relatam maior impacto da obesidade no seu dia a dia.

Adicionalmente, os problemas de fertilidade e os riscos associados a uma gravidez com obesidade também estimulam bastantes jovens a procurar uma solução na cirurgia metabólica.

A maior proporção de mulheres jovens a serem submetidas a cirurgia bariátrica pode também dever-se às fortes pressões culturais e sociais na procura de um corpo ideal.

Em contraste, as pressões culturais, sociais e reprodutivas representam um menor estímulo para os homens com obesidade procurarem tratamento. Comparados com as mulheres têm, normalmente, menor noção do seu peso real, menor insatisfação com os seus quilos a mais e menos tentativas de tratamentos prévios. Tipicamente, os homens procuram a cirurgia numa idade mais avançada e com mais doenças associadas, o que aumenta o risco de complicações e de mortalidade.

Num estudo científico que avaliou especificamente homens submetidos a cirurgia bariátrica, concluiu-se que estes associavam a ideia da cirurgia a vaidade e a critérios estéticos, com os quais não se identificavam e que apenas a ocorrência de uma complicação de saúde (como um enfarte) os fez compreender a gravidade da obesidade e a necessidade de procurar um tratamento eficaz.

É, pois, importante perceber que homens e mulheres podem ter motivações diferentes para procurar a cirurgia como solução para a doença da obesidade, e que todas são válidas e estão sempre associadas a uma diminuição franca da qualidade de vida, quer seja numa vertente física, psicológica ou social. A cirurgia metabólica permite recuperar a qualidade de vida e encarar o futuro com maior satisfação e expectativa de anos de vida saudáveis.