A complexidade técnica e o desenvolvimento tecnológico permitiram que a cirurgia da obesidade se tornasse num procedimento cirúrgico extraordinariamente seguro e eficaz. Ao mesmo tempo, os custos monetários associados podem ascender a vários milhares de euros, por cirurgia.
Por Gil Faria, cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde, professor da FMUP e investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade
A comparação entre um gasto imediato de vários milhares de euros, com o diminuto custo por unidade de várias dietas, tratamentos comportamentais ou farmacológicos, leva-nos a pensar que um gasto mais elevado (apesar de único) é mais dispendioso do que pequenos (mas múltiplos) custos sucessivos.
De igual forma, a expectativa de resultados será também um fator a ter em conta na avaliação do custo de determinado tratamento. Se o custo for baixo, mas com ele não obtivermos qualquer resultado clínico, o seu interesse é nulo. Se, por outro lado, um tratamento com um investimento elevado proporcionar uma alteração significativa na evolução de uma doença, a sua utilidade não é questionável.
A obesidade é a pandemia do século XXI, com custos económicos e sociais crescentes e insustentáveis para qualquer sistema de saúde. O único tratamento com eficácia comprovada a longo prazo na obesidade grave é a cirurgia metabólica. E, embora os custos individuais de cada operação sejam elevados, a ausência de alternativas realmente eficazes faz com que a cirurgia seja a única estratégia racional em casos de obesidade grave.
Todas as análises de custo-benefício da cirurgia bariátrica têm demonstrado a sua eficácia e justificação económica. Tanto mais que a maioria dos estudos conclui que a cirurgia metabólica proporciona poupança económica, além dos ganhos em saúde. Em avaliação de custo-eficácia, esta combinação de virtudes tem o nome de estratégia dominante. Ou seja, é a única estratégia racional!
Uma análise científica e ponderada dos custos e benefícios associados à obesidade e ao seu tratamento, permite perceber que:
– a obesidade origina uma diminuição importante da qualidade de vida;
– a eficácia dos tratamentos nutricionais, farmacológicos e comportamentais em casos de obesidade grave é muito baixa;
– o somatório dos custos individuais de cada tratamento não cirúrgico, ao longo de vários anos, é maior do que o dos custos associados à cirurgia;
– a cirurgia oferece um tratamento eficaz e duradouro no controlo da obesidade;
– o investimento realizado com os custos inerentes à cirurgia é recuperado após poucos anos e traz “dividendos” associados, como sejam a melhoria da qualidade e/ou esperança de vida.
Por tudo isto, é inequívoco que a cirurgia da obesidade é um investimento no futuro, na saúde, nas finanças e, acima de tudo, na qualidade de vida destes doentes!