A maior parte de nós ainda é capaz de se lembrar dos verões passados em infância. Daqueles dias e semanas que pareciam durar uma eternidade. Um dia feliz passado na praia ou na casa de férias durava uma vida. Umas quantas décadas mais tarde, o mês de Dezembro parece-nos chegar agora sempre como uma surpresa, levando-nos a refletir: “afinal para onde foi o meu ano? Tudo passou tão rápido!”.
É certo que os relógios não aceleram de forma inexplicável a partir da idade adulta. Mas é também verdade que a perceção que temos do tempo muda muito ao longo da nossa vida. Fatores que influenciam a nossa psique, neurologia e até a Física podem ajudar a explicar.
Uma das principais teorias parece estar relacionada com a forma como o nosso cérebro processa as memórias. Segundo os especialistas, as novas experiências que vivemos ficam gravadas de uma forma bem mais intensa – isto de forma a permitir que aprendemos algo para o futuro. É por isto que nos lembramos tão bem das nossas “primeiras vezes”, a andar de bicicleta, a beijar, etc. Ora, à medida que envelhecemos cada vez temos menos oportunidades de experimentar algo pela primeira vez. Acabamos por assentar numa rotina, seja no nosso trabalho ou na nossa vida familiar. Isto determina que os dias acabem por parecer menos “marcantes” ao nosso cérebro, criando a ilusão de que o tempo passa mais rápido.
A nossa perceção do tempo é também influenciada pela forma como dedicamos o nosso tempo a fazer (ou não) algo de que gostamos muito. Todos já sentimos isso. O tempo parece “voar” quando nos estamos a divertir. Já quando estamos aborrecidos, numa reunião ao final da tarde por exemplo, o tempo parece quase parar. A nossa resposta emocional para com uma determinada ação altera a perceção que temos da sua duração.
Por último, a deterioração cognitiva ao longo do envelhecimento pode ser um fator que contribui para esta mesma sensação. Um cérebro mais envelhecido demora mais tempo a processar imagens e acontecimentos, gerando assim uma diferença entre aquilo a que alguns especialistas chamam de “tempo mental” e o tempo real, medido pelos relógios e calendários.
Posto isto, será realmente inevitável que a nossa perceção do tempo continue progressivamente a aumentar? Não necessariamente, segundo alguns especialistas. É possível combater esta indesejável sensação. Mudar a nossa perspetiva, aprender novas coisas, conhecer novos locais, culturas, assim como novas pessoas, poderá ser importante para assegurar que o seu cérebro continua a criar novas memórias, a gerar sempre novas “primeiras vezes”. Estas experiências irão idealmente abrandar o tempo e “alargar” os seus dias de vida. Aproveite.