A ciência comprova: a Turquia está, literalmente, a aproximar-se da Europa. A região da Anatólia, que constitui a parte asiática da Turquia, está a mover-se para oeste a uma taxa de cerca de 2 centímetros por ano, revela um estudo publicado na Geophysical Research Letters.
Esta deslocação resulta de um fenómeno conhecido como “escape tectónico”, causado pela pressão de duas grandes placas tectónicas: a Placa Euroasiática, a norte, e a Placa Arábica, a sul e a leste. A Placa da Anatólia, mais pequena, está “entalada” entre ambas e é forçada a deslizar lateralmente, numa rota de fuga em direção ao Mediterrâneo Oriental e ao continente europeu.
A falha que empurra a Ásia Menor
A principal via deste movimento é a Falha da Anatólia Norte, uma falha transformante onde ocorre deslizamento lateral entre placas, semelhante à famosa Falha de San Andreas, nos EUA. Esta falha atravessa toda a Turquia, desde a fronteira com a Geórgia até ao Mar de Mármara, e está diretamente associada a forte atividade sísmica.
“O movimento ao longo da Falha da Anatólia Norte é estimado em cerca de 20 milímetros por ano, com uma profundidade de bloqueio de aproximadamente 14 quilómetros”, indica o estudo de 2013, que continua a ser uma referência na área.
O fenómeno ajuda a explicar por que razão a Turquia é uma das regiões mais ativas do planeta ao nível de sismos. Um exemplo dramático ocorreu a 6 de fevereiro de 2023, quando um terramoto devastador, centrado na Falha da Anatólia Oriental (onde confluem as placas Arábica e Anatólia), provocou um deslocamento súbito do solo de seis metros, o equivalente a três décadas de “migração” tectónica num só evento.
Um continente em movimento
A chamada Península da Anatólia (ou Ásia Menor) poderá, em escalas de tempo geológico, aproximar-se cada vez mais da Europa. Ainda que impercetível à escala humana, este movimento tectónico constante contribui para a remodelação lenta mas contínua dos continentes.
Como sublinha a revista Superinteressante, “a Turquia está a ser empurrada para fora da Ásia e diretamente contra a Europa”. Ao ritmo atual de 2 centímetros por ano, seriam precisos 500 mil anos para a região avançar apenas 10 quilómetros. Contudo, para a geologia, que mede o tempo em milhões de anos, esta dança tectónica é perfeitamente significativa.