Em comunicado enviado à agência Lusa, a FCTUC explicou que a investigação, realizada em colaboração com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil), prevê a análise dos ossos queimados de quatro múmias com aproximadamente quatro a cinco mil anos, nomeadamente dois sacerdotes do período intermédio, uma cantora de Ámon da 22.ª dinastia e uma mulher do período romano.
O estudo está a ser realizador por uma equipa de investigadores da Unidade de I&D Química-Física Molecular (QFM) da FCTUC.
De acordo com Maria Paula Marques, professora do Departamento de Ciências da Vida (DCV) e investigadora na Unidade de QFM-UC, o objetivo é determinar qual a temperatura a que os ossos foram queimados, que contaminações apresentam e que possíveis patologias tinham.
“Por exemplo, se os vestígios ósseos tiverem sido queimados a uma temperatura baixa a moderada (até 400ºC) possuirão ainda proteínas (colagénio), assim como vestígios de lípidos (gorduras). Se estiveram expostos a temperaturas acima dos 600 ou 700ºC não apresentam nenhum componente orgânico (como proteínas ou lípidos), restando apenas a matriz mineral cuja estrutura se vai modificando à medida que a temperatura de queima aumenta”, explicou.
Maria Paula Marques precisou que para estudar ossos humanos queimados são utilizadas técnicas de espetroscopia, de infravermelho e de Raman, que permitem avaliar a composição química e a estrutura das amostras, bem como verificar a que temperaturas foram sujeitas.
Segundo aquela docente, este tipo de análises é importante em ciência forense, nomeadamente em identificação de vítimas de acidentes que envolveram fogo, quando a identificação não é possível através de análises de ADN e também em investigação bio antropológica e bio arqueológica.
Além do uso destas técnicas, a equipa de investigadores da FCTUC usa ainda métodos baseados em neutrões (uma partícula subatómica), só disponíveis em grandes infraestruturas como o ISIS Neutron & Muon Source, em Inglaterra.
“A técnica de dispersão de neutrões não utiliza radiação visível proveniente de lasers ou radiação de infravermelho, disponíveis no nosso laboratório, mas sim um feixe de neutrões, dando-nos assim informações complementares”, descreveu a investigadora.
Para além dos professores Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho, participam neste estudo Ana Brandão (QFM-UC), David Gonçalves (Direção-Geral do Património Cultural), Victor Guida de Freitas, Claudia Rodrigues-Carvalho e Murilo Bastos (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Lusa