100 Erros: Descriminar vs. Discriminar

Não se preocupe, a Escrivaninha (equipa de serviços linguístico e de edição) esclarece todas as dúvidas que possa ter na nova rúbrica “100 Erros”, todas as semanas no site Forever Young.

Quando decidi sair de uma certa empresa onde trabalhei como redactora do departamento comercial, a minha certeza em fazê-lo tornou-se ainda mais firme quando recebi as contas finais descriminadas em vez de discriminadas — e isto sem querer discriminar (muito) o dito grupo de comunicação social.

 

De facto, muitos de nós, mesmo falando e escrevendo com propriedade sobre determinados assuntos, quando emitimos uma opinião, quando falamos das leituras que fizemos, ou quando damos um ar da nossa graça e da nossa cultura, por vezes lá cometemos este lapso que logo mancha o mais erudito perfil.

 

Na verdade, descriminar e discriminar são duas palavras semelhantes mas com grafias e significados diferentes. Por isso, memorizemos esta breve explicação e deixemos, de uma vez por todas, de as confundir.

 

Discriminar significa «separar, discernir, distinguir, tratar de modo desigual ou injusto alguém, no que concerne ao cariz sexual, étnico, religioso» etc. Por outro lado, descriminar significa «tirar a culpa de alguém», ou seja «descriminalizar, absolver, inocentar».

 

Olhemos, então, para as seguintes frases:

1) «A Joana foi discriminada pelo seu tom de pele».

2) «Carolina, envio o ficheiro com as suas contas finais discriminadas».

 

Na frase 1), percebemos que a Joana foi discriminada, ou seja, posta de parte, segregada — vítima de um acto xenófobo e, portanto, muito negativo. Na frase 2) o significado é também o de “separar, distinguir”, mas aplica-se à ideia de uma apresentação eventualmente listada, que distingue os diferentes valores devidos à Carolina.

 

Em suma, discriminar significa «distinguir» ou «separar» — para o bem ou para o mal, como se costuma dizer.

 

Vejamos agora a seguinte frase:

3) «O Manuel foi descriminado daquilo de que tinha sido acusado».

 

Na frase 3), percebemos que o Manuel foi absolvido de um crime de que o incriminavam. Foi, portanto, declarado inocente.

 

Lembrem-se: discirnam, discriminem os significados destas duas palavras e auto-descriminem-se, finalmente, deste intolerável delito contra a língua portuguesa!

 

 

Elsa Alves

(texto escrito de acordo com a antiga ortografia)
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