Por mais triste que seja a morte de um familiar ou amigo, é também algo que infelizmente acontece. Independente do quão frequente possa ser, nunca sabemos bem o que dizer nestes momentos ou como melhor reagir.
Parte da razão que pode ajudar a explicar esta situação está relacionada com o desconforto que sentimos em relação ao sofrimento dos outros. Muitas vezes pelo simples facto de nós próprios estarmos a debater-nos internamente com as questões ligadas à nossa própria mortalidade.
Peter A. Lichtenberg, psicólogo clínico e Diretor do Institute of Gerontology da Wayne State University em Detroit, refere que a morte “traz consigo um sentimento de finalidade e desespero que nos afeta a todos”. Segundo este especialista, este sentimento é extremamente difícil de ser gerido internamente ao mesmo tempo que procuramos oferecer conforto a outros.
Nestas situações é esperado que sejamos capazes de oferecer algum tipo de frase reconfortante às pessoas que estão a sofrer. Algo que ajude o outro a sentir-se menos negativo. É exatamente aqui que temos dificuldades. O que dizer? Como melhor expressar o nosso pesar? É certo que podemos usar expressões clássicas como “as minhas condolências”, mas será que isso sequer ajuda minimamente?
Aqui seguem algumas expressões que deverá evitar ao falar deste tema e um conjunto de alternativas mais reconfortantes que os seus entes queridos talvez precisem de ouvir.
- “És tão forte”
Elogiar a resiliência de uma pessoa em sofrimento pode parecer uma boa ideia, certo? Errado. Especialmente no início, segundo Anne-Marie Lockmayer especialista no processo de luto e autora, muitas das pessoas estão ainda em choque. “Não é tanto força; é choque”, segundo esta autora. As pessoas podem parecer até estar bem mas na verdade não o estão.
Em muitos casos verifica-se igualmente que ao estarem bastante ocupadas com os processos associados ao funeral e à morte, estas pessoa podem transmitir uma ideia de que têm tudo sob controle, quando na verdade estão apenas num processo de reação quase automática, evitando lidar verdadeiramente com os seus sentimentos.
O que deve antes dizer: “Consigo ver que estás a sofrer. Isto é extremamente difícil”
Ao invés de enaltecer a resiliência da pessoa que lida com o sofrimento, tente antes simplesmente reconhecer o quão difícil é este momento para a pessoa. Este simples reconhecimento pode ser suficiente para ajudar a pessoa a sentir que é normal estar a ter dificuldades a gerir emocionalmente todo este processo.
- “Ao menos ela já não está a sofrer”
Este tipo de afirmações que acima de tudo tentam olhar para o lado positivo são bem-intencionadas. Como sabemos que a morte é algo assustador e negativo, tentamos concentrar-nos nas perspetivas mais positivas da situação em geral.
Na verdade, nada do que possamos dizer pode resolver a dor que outra pessoa sente. Segundo Lockmayer temos que tentar estar confortáveis com o processo de lidar com o desconforto. Isto significa ser capaz de observar o sofrimento dos outros.
Acima de tudo tente evitar utilizar a expressão “ao menos” ao falar com alguém em sofrimento. “Ao menos tens outras crianças”, “ao menos ainda tens um bom casamento”, etc. Ao utilizar estas palavras está a tentar forçar a outra pessoa a pensar de uma determinada maneira quando não tem esse direito. O luto é sempre algo extremamente pessoal e íntimo que deve ser respeitado ao máximo.
O que deve antes dizer: “Não sei bem o que dizer… apenas quero que saibas que estou aqui para ti.”
O mais importante é estar disponível para a outra pessoa. Não precisa de encontrar as palavras perfeitas. Apenas precisa de estar lá para a apoiar no que for necessário.
- “Liga-me caso precises de alguma coisa”
Segundo Lichtenberg, esta frase é simplesmente um convite para que a pessoa não lhe ligue.
Propostas vagas e incertas podem até parecer corretas no momento, mas normalmente servem apenas para colocar “a bola no outro lado do campo”. De acordo com Lockmyer, muitas das pessoas que passam por um processo de luto, não conseguem sequer bem definir aquilo que precisariam. Ao “obrigar” a pessoa que está a sofrer a ter que ser ela a iniciar o contato consigo, está apenas a causar uma maior ansiedade na pessoa.
O que deve antes dizer: “Estou agora a ir aí ter para te levar a almoçar fora”
- “Como estás?”
Apesar de ser bom tentar saber como está a pessoa em sofrimento, estes tipos de questões superficiais acabam por gerar apenas respostas “secas” e curtas, como “está tudo ok”.
Como esta é uma pergunta tão banal ao longo do nosso dia-a-dia, acaba por ser incapaz de expressar que estamos verdadeiramente interessados no bem-estar da pessoa em luto.
O que deve antes dizer: “Como te estás a sentir hoje?”
Se quer mesmo perceber como a pessoa se está a sentir então tente que a sua questão se centre no Presente. O foco no estado emocional atual da pessoa, reduz as hipóteses de receber uma resposta excessivamente reflexiva e banal.
- “Já passou um ano”
A sociedade espera que os indivíduos consigam ultrapassar o luto com alguma rapidez. O problema é que um “coração partido” não se rege por um calendário. O tempo é diferente para estas pessoas, segundo Lichtenberg, “um ano pode parecer apenas o início”.
Muitas pessoas acabam inclusive por sentir que o segundo ano de luto é ainda mais difícil. É apenas nesta altura que as pessoas realmente se apercebem que a sua dor jamais vai passar por completo. A ideia de que este pesar será eterno pode ser algo extremamente difícil de gerir.
O que deve antes dizer: “Sei que ainda sentes falta dela. Eu também o sinto”
Não tente aligeirar o sofrimento à medida que o tempo vai passando. Reconheça as dificuldades que o seu ente querido ainda irá ter que enfrentar e vá oferecendo o seu apoio ao longo desse processo.
Conclusão
O que dizemos é importante. Acima de tudo assegure-se de que está a mostrar a sua empatia pelo sofrimento que a outra pessoa está a sentir. Isso é tudo o que o seu ente querido irá querer saber. Encontre formas de estar presente, de partilhar momentos significativos, garantindo desta forma que a pessoa não terá que enfrentar todo este processo sozinha.