«É muito difícil definir o palavrão», diz Emma Byrne, especialista no tema e autora do livro Dizer Palavrões Faz Bem. Para a especialista «este é o tipo de linguagem que usamos quando estamos em choque, surpresos, eufóricos, queremos ser engraçados ou ofensivos, mas é um fenómeno cultural que só faz sentido dentro de uma comunidade, grupo linguístico, sociedade, país ou religião».
É claro que pode haver algumas pessoas que nunca disseram um palavrão, mas muitos de nós identificamos aquela súbita sensação de alívio ao proferir um impropério, a sensação de que certas palavras estão carregadas de uma camada extra de energia .
Byrne revela que uma das coisas mais interessantes com que se deparou durante sua pesquisa foi o fato de que as pessoas que foram submetidas a uma hemisferectomia [remoção de um lado do cérebro devido a um dano irreparável] podem perder a capacidade de falar, mas não completamente.
«A pessoa perde a maior parte da linguagem, mas ainda será capaz de dizer palavrões», diz Byrne. «Parece que estabelecemos conexões emocionais muito fortes com certos tipos de linguagem, e isso é armazenado separadamente do resto da nossa linguagem».
“Dizer palavrões está tão profundamente ligado às emoções, que os movimentos musculares necessários para os proferir são armazenados em vários lugares, ou seja, temos backups quando precisarmos deles», acrescenta.
Richard Stevens, professor de Psicologia na Universidade de Keele, no Reino Unido, e responsável pelo Laboratório do Palavrão, colocou a questão de saber se haveria algum sentido em dizer palavrões quando se está com dor, e se isso ajuda de alguma forma.
Levou a efeito a seguinte experiência: enfiar a mão num balde cheio de gelo, para ver quanto tempo se aguenta. A pessoa faz isso duas vezes: uma vez proferindo palavrões e, na outra, expressões substitutas.
O especialista descobriu que, ao falar palavrões, as pessoas conseguiam manter a mão durante mais tempo no gelo, enquanto as palavras substitutas não funcionavam porque não tinham o mesmo impacto emocional. Por que é que isso acontece?
«Normalmente assistimos a um aumento na frequência cardíaca quando dizemos um palavrão, em comparação com a palavra neutra. Isso parece indicar algum tipo de resposta emocional ao palavrão», diz Stevens.
«A hipótese com que trabalhamos é que, quando as pessoas dizem palavrões com dor, elas estão na verdade a aumentar os seus níveis de stress, trazendo à tona um fenómeno chamado de analgesia induzida por stress [em que se é insensível à dor]», conclui.