Entra-se pela porta da Cidade ou pela porta da Universidade, revisita-se uma antiga sala de aula, recordam-se as maiores glórias desportivas da Académica, descobre-se o interior de uma República, sente-se o ambiente da Queima das Fitas e termina-se a ouvir o Fado de Coimbra: o novo espaço “Éfe-Érre-Á – Momentos da Vida Académica”, que reúne o espólio museológico (e não só) representativo de algumas das mais marcantes vivências da comunidade estudantil conimbricense, foi inaugurado esta terça-feira, 4 de abril (Dia do Antigo Estudante de Coimbra), pela Universidade de Coimbra (UC).
O novo espaço, apoiado pela Câmara Municipal de Coimbra (no âmbito de um projeto vencedor do Orçamento Participativo camarário de 2020), reorganiza e reinterpreta o espólio do Museu Académico da Universidade de Coimbra, oferecendo uma visão singular dos momentos mais marcantes da vida estudantil em Coimbra (com salas evocativas de cada vivência).
Na exposição, como se lê à porta (no rés-do-chão do Colégio de Jesus, parte do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra), “o visitante é desafiado a reviver as suas memórias ou, se não as tiver, a entender melhor quem as tem”. A mostra ocupa quatro salas – duas delas divididas ao meio por um sistema de vitrines-espelho, que “duplica” os conteúdos expostos, criando a sensação de ampliação do espaço.
Na primeira, que dá acesso à sala seguinte por duas portas distintas (a da Cidade e a da Universidade), materializa-se a ligação indissociável entre Coimbra e a instituição de ensino superior mais antiga do País (e uma das mais antigas do Mundo, com 733 anos de história): ladeada por duas grandes telas com imagens-vídeo, encontra-se uma reprodução da Torre da Universidade, que guarda no interior um dos seus sinos originais (a famosa “Cabra”).
Seguindo pela porta da direita (a da Universidade), recorda-se o interior de uma antiga sala de aula, “coração da vida universitária”, e toda a memorabilia a ela associada – incluindo o traje académico e as insígnias doutorais de Polybio Serra e Silva, Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina falecido em 2022. E passa-se, depois, para a sala do Desporto, que guarda os troféus e os evoca os momentos mais emblemáticos da Associação Académica de Coimbra (AAC) enquanto uma das maiores entidades multidesportivas nacionais: em lugar de destaque figura – claro está – a primeira Taça de Portugal da história, conquistada pela equipa de futebol da AAC em 1939.
Do outro lado do espelho estão as salas das Repúblicas e da Queima das Fitas, às quais se acede pela porta da esquerda (a da Cidade). A primeira recria o interior de uma República, tipicamente uma casa arrendada por estudantes e “gerida nos ideais de coabitação democrática e gestão interna da vida coletiva”, palco da vida boémia estudantil, mas também de uma forte consciencialização cultural e política (visível na oposição ao Estado Novo nas décadas de 60 e 70 do século XX) – nas paredes estão gravados os marcos dessa história centenária.
Na sala seguinte, evoca-se uma história mais recente: a da Queima das Fitas, cujas origens remontam a finais do século XIX. Ali, com a parede da sala ocupada por um ecrã de mais de dois metros de altura, feito de fitas, onde são projetadas imagens do cortejo (e é reproduzido o som-ambiente), o visitante tem a sensação de entrar dentro da festa – em exposição, encontra-se parte do carro alegórico vencedor da última edição do cortejo (2022).
Para a despedida fica guardada a sala da Música, onde é possível ouvir uma pequena amostra dos estilos musicais – do fado à canção de intervenção – ligados ao ambiente universitário.
“É muito especial, para a Universidade de Coimbra, inaugurar este espaço de evocação e homenagem de todas as vertentes da vida académica coimbrã, das aulas à cultura e ao desporto, passando pelo companheirismo e pela boémia estudantil. E torna-se ainda mais especial inaugurá-lo no Dia do Antigo Estudante, como mais um símbolo da ligação eterna que a UC estabelece com quem por aqui passa”, declara o Reitor da UC, Amílcar Falcão. “Além disso, trata-se de um espaço singular, com características inéditas a nível mundial, que vem enriquecer e diversificar a oferta turística da Universidade de Coimbra”, sublinha.
“A exposição ‘Éfe-Érre-Á – Momentos da Vida Académica’, resultante da conjugação de um dos projetos vencedores da terceira edição do Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Coimbra em 2020 com o repensar da exposição e a reorganização do espólio museológico do Museu Académico da Universidade de Coimbra, procura dar corpo à história da presença estudantil em Coimbra, entre cultura e tradições”, sublinha o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva. “Esta exposição pretende mostrar ao visitante a riqueza material e imaterial que resultou dos vários momentos do quotidiano da vida académica, tão marcante em Coimbra”, conclui José Manuel Silva.
Para o Diretor do Museu da Ciência da UC, Paulo Trincão, “o espaço “Éfe-Érre-Á – Momentos da Vida Académica resulta de um desejo muito forte de contribuir para a construção da identidade coletiva daqueles que em Coimbra viveram momentos inesquecíveis da sua vida e mostrar àqueles que por aqui não passaram o que esta Universidade e a cidade têm de único”. “Esta exposição procura ser um espaço de (re)encontro e emoções, criando pontes enraizadas num espólio académico único no país. Estas nossas memórias académicas são o ponto de partida para conhecermos melhor as vivências e os motivos de orgulho das nossas lutas e dos nossos valores plurais. Todos são desafiados a partir de agora a ajudar a construir a imagem que queremos dar de nós”, completa.
O espaço “Éfe-Érre-Á – Momentos da Vida Académica” está integrado nos várias programas de visita ao circuito turístico da Universidade de Coimbra (com preços entre os oito e os 17,5 euros).
Éfe-Érre-Á – ou F.R.A., acrónimo de Frente Revolucionária Académica – é um grito exuberante lançado pela comunidade estudantil como saudação de honra ou manifestação de alegria.