A transmissão de cultura e informação são elementos fundamentais no processo educativo – e este foi, desde a sua criação, o mote da papelaria Araújo & Sobrinho, que hoje em dia é uma das mais antigas papelarias da Europa e se transformou num hotel-museu localizado no centro histórico do Porto, o Porto A.S. 1829 Hotel.
A Araújo & Sobrinho foi fundada por Manuel Francisco de Araújo em 1829, começou como “Armazém de Papel ao Murinho de S. Domingos” e iniciou a sua atividade com a venda de papel e alguns finos importados de Inglaterra, para dar resposta à procura dos clientes ingleses do século XIX, que eram muitos na cidade devido ao comércio do vinho do Porto. Na altura a escrita era o principal meio de comunicação e, por isso, a aposta foi mais do que ganha.
O que começou com uma pequena papelaria de bairro, fundada por dois familiares, evoluiu para um prédio inteiro e com um negócio a crescer para oficinas próprias de tipografia, encadernação e até carpintaria, culminando com a conquista de representações exclusivas de grandes marcas internacionais, como de máquinas de escrever e outros equipamentos de escritório – transformando-se numa das mais importantes e conceituadas papelarias do país e uma das mais antigas da Europa, estando na mesma família há já cinco gerações.
O Grupo de hotéis Art and Soul veio revitalizar esse mesmo edifício, de grande valor arquitetónico e patrimonial na cidade do Porto, criando o Porto A.S. 1829 Hotel: “fazia todo o sentido manter o nome ligado à história do local. Esta história está assumida e marcadamente presente em todo o edifício do Porto A.S. 1829 Hotel, um hotel boutique e temático – cada piso transporta-nos para uma viagem no tempo, a mesma viagem iniciada pela família há quase 200 anos”, refere António Gonçalves, Administrador do Grupo.
Ao entrar no hotel, o visitante inicia uma viagem ao passado: a receção mantém mobiliário original com acesso à Papelaria Araújo & Sobrinho e existe ainda uma exposição de mobiliário e objetos pertencentes ao espólio (pintura, material escolar e de escritório, publicidade, fotografias, postais, prémios, livros, miniaturas para exposição, móveis, documentação e vestuário) de há quase 200 anos. Nos restantes quatro pisos, além dos 41 quartos, vive-se e experiencia-se as várias fases da Papelaria, que se podem demarcar a nível temporal.
O primeiro piso [1829 até 1920] introduz-nos na história da casa Araújo & Sobrinho com a apresentação do seu símbolo – o cavalo-marinho -, as primeiras imagens do interior e exterior da Papelaria e dos seus fundadores e alguns postais originais da Araújo & Sobrinho.
O segundo piso [1920 a 1935] está marcado pela ampliação das instalações através da abertura de oficinas próprias de tipografia, trabalhos em relevo, encadernação e carpintaria, com fotografias do interior da loja e das instalações de carpintaria e tipografia. Estão ainda presentes neste piso publicidades ilustrativas da época e imagens das principais marcas de canetas comercializadas na Araújo e Sobrinho (Conklin’s, Waterman, Pelikan) e dos singulares “Concertos de Canetas”.
O terceiro [1935 a 1945] dedica-se ao período de aquisição de equipamento, nomeadamente de máquinas de escrever e outros equipamentos de escritório, como a Hèrmes Baby, a Pátria e a Underwood – alguns exemplares encontram-se dispostos. Este período áureo de abertura de novas filiais é registado através de fotografias da filial dos Clérigos e das famosas montras da “Guerra das Canetas” da marca Eversharp.
Já o quarto e último piso [1950-1974] transporta-nos novamente para a área da papelaria, num período particular do 25 de Abril, sendo possível encontrar um conjunto de materiais escolares e de anúncios da A.S. tendo em vista o regresso às aulas, que têm referências aos valores do Estado Novo, como por exemplo, os cadernos da Mocidade Portuguesa, e por um exemplar original do jornal de 25 de Abril de 1974, presente num dos quartos deste piso, que permite fazer a ponte com a história dos funcionários da A.S. que, movidos pelos valores da revolução, se concentraram em frente à Papelaria para evitar a sua nacionalização e ainda outros materiais de papelaria e de pintura.
Também o restaurante do hotel, a Galeria do Largo, transporta consigo história: era a loja da Papelaria Araújo e Sobrinho, onde se comprava papel e telas para pintar e desenhar, mas houve tempos que teve uma galeria – daí o nome – e uma barbearia. Agora, as iguarias do Chef Manuel Ferreira convidam a uma viagem pela gastronomia portuguesa e mediterrânica, sendo que o chef privilegia a comida de conforto ao almoço e ao jantar.