A 4 de março de 2024, o portal do Sistema de Alerta Rápida para Alimentos e Rações (RASFF) notificou a “presença de hepatite A em morangos originários de Marrocos” em alguns pontos de entrada deste produto em Espanha, deixando o país vizinho em alvoroço. O aviso indica claramente que o nível de risco é grave, pois ultrapassa o “nível máximo permitido”.
O RASFF é uma rede fundamental para garantir o monitoramento transfronteiriço de informações e reagir rapidamente quando são detetados riscos para a saúde pública na cadeia alimentar. Em Espanha, a ação adequada não deve provir de apenas um ministério, mas provavelmente terá que coordenar três deles: Agricultura, Pescas e Alimentação, Saúde e Direitos Sociais, Consumo e Agenda 2030. Este trabalho já está em curso. O alerta em questão concerne apenas Espanha, segundo indica o organismo da UE, pelo que Portugal não é afetado.
Por enquanto, a Associação Valenciana de Agricultores (AVA-ASAJA), através do seu presidente, Cristóbal Aguado, citado pelo ABC, exigiu “medidas mais robustas para todos os produtos importados de Marrocos e uma fronteira mais ativa que verifique a adequação dos produtos de países terceiros fora da União Europeia”.
A hepatite A é um vírus que se dissemina no fígado através da veia porta, replica-se e é secregado através da via biliar, chegando ao intestino delgado e sendo excretado nas fezes. A transmissão ocorre principalmente por via fecal-oral, envolvendo o consumo de alimentos ou água contaminados e contato pessoa a pessoa.
Embora exista vacina, não há tratamento específico disponível contra a doença, apenas para aliviar os sintomas. A hepatite A é um problema de saúde pública mundial, com a infeção causando milhões de casos e milhares de mortes a cada ano.
Embora o caso em questão seja alarmante, não é algo novo para a União Europeia. Nos últimos quatro anos, foram registradas nove notificações (incluindo a desta semana) alertando para a presença do vírus da hepatite A em outros alimentos, como mexilhões vivos vindos de Itália, ou em arandos congelados provenientes da Polónia. Antes disso casos de frutas congeladas da Bélgica, framboesas da Bulgária e Polónia, amêijoas de Itália, tomates secos da Turquia ou mexilhões italianos.
Portanto, a prevenção deve abranger três abordagens possíveis: práticas de higiene, profilaxia com imunoglobulinas e vacinação.
Um estudo recente do grupo de pesquisa da especialista italiana Alessandra Fallucca revisou o uso da vacina contra a hepatite A em manipuladores de alimentos. Sua conclusão é que uma estratégia preventiva eficaz contra este vírus – complementar à imunização de grupos de alto risco – implica incentivar os empresários da indústria alimentícia a vacinar os indivíduos que buscam emprego ou já trabalham no setor, abrangendo as fases de processamento e distribuição. Isso seria uma estratégia crucial para reduzir a transmissão do vírus através dos alimentos e garantir a segurança alimentar como um todo.