A obsessão da Geração Y com os recomeços

O “recomeçar” ou optar por “uma vida nova” é vendido como um rito de passagem para a vida adulta, em muito estimulado pelas redes sociais.

Optar pelo conforto significa que se está a jogar pelo seguro, ou seja, estará a perder a aventura de se encontrar. Contrariá-lo, segundo a norma, só será possível se fizer a mochila e começar a saltar de cidade em cidade, com o objectivo de se reinventar.

Estima-se que 41% dos “millennials”, com idades entre os 18 e 35 anos, deixaram a sua terra natal para ir viver para uma nova cidade, sem intenção de permanecer por lá. E 26% justifica-o alegando estar à procura de um novo estilo de vida ou um novo começo. Vale a pena notar que a forma como nos movemos difere drasticamente das gerações anteriores, especialmente porque os jovens estão agora a deslocar-se em busca de aventuras por conta própria, ao invés de para marcos tradicionais, como o casamento ou a compra de uma casa.

Os jovens da chamada Geração Y vivem obcecados pelo novo, porque a maturidade, supostamente, chega no momento em que se decide “recomeçar”, longe dos ornamentos da infância.

As plataformas sociais  desempenham um papel fulcral nesta mudança de mentalidade. Embora ninguém tenha estudado a co-relação exacta entre estes movimentos migratórios e os Instagrams temáticos que fazem uma cidade parecer um cenário de cinema, é fácil imaginar como a vida seria melhor apenas por uma simples troca de código postal.

Jennifer Tanner, cientista de desenvolvimento aplicada, cujo trabalho se concentra na transição para a idade adulta, diz que «o cérebro permanece maleável até aos 20 anos para que um jovem se possa adaptar», explicando que quando Darwin falou sobre a “sobrevivência do mais apto”, ele não estava a falar de condicionamento físico, mas a “adaptação entre o humano e o seu contexto”.

Noutras palavras, uma sensação de pertença é importante, e embora os nossos cérebros estejam formatados para procurar o novo na idade adulta, Tanner acredita que essa busca desenfreada por novos começos resulta num desequilíbrio.

«Explorar e descobrir quem somos é positivo», defende a especialista, mas adverte que também é imprescindível a procura pelo compromisso e a estabilidade. Naturalmente, se uma pessoa estiver constantemente à procura de algo, entra num estado de semi-convulsão.

«A vida adulta emergente reside nessa necessidade de explorar, nessas novas transições, mas acho que os jovens estão a falhar no que toca ao compromisso», prossegue Tanner. Dito isto, como pôr fim a este ciclo? Ela observa que o compromisso é a forma mais racional de haver uma relação sustentável com a sociedade, e, ao continuarmos a persistir em “novos recomeços”, corremos o risco de ficarmos cada vez mais desligados da realidade. Em última instância, muitos acabarão sozinhos, o que, segundo a especialista, é um dos maiores problemas na idade adulta emergente.

Jennifer Tanner ressalta que assumir compromissos é crucial porque «começar uma vida boa é uma coisa, mas construir uma vida boa é outra». A tentação de manter a vida na “fase da lua-de-mel” é apetecível, mas a longo prazo irá causar dissabores e frustração.

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