Nos anos 90, o psicólogo Martin Seligman criou e apresentou o movimento da Psicologia Positiva. Esta linha de investigação procurou colocar todo o foco dos esforços da psicologia no estudo do tema da felicidade e na forma como a vida dos indivíduos pode ser enriquecida.
Esta tornou-se numa tendência popular. Acima de tudo o objetivo destes esforços foi dar visibilidade à forma como cada um pode atingir o seu verdadeiro potencial. Como podemos encontrar um verdadeiro significado para a nossa vida, como podemos afastar a infelicidade e viver uma existência mais gratificante.
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Desde então muitos têm sido os estudos e livros publicados que tem como objetivo inspirar as pessoas. Ora, então porque é que não nos sentimos todos mais felizes? Porque é que, apesar de todos estes esforços, os níveis reportados de felicidade parecem estar estagnados há mais de 40 anos?
De acordo com o especialista e professor de psicologia Frank McAndrews existem 3 razões que ajudam a explicar este fenómeno e que parecem comprovar o continuo estado de insatisfação que parece caracterizar a espécie humana.
- A felicidade não é uma só coisa atingível
Um dos principais problemas está associado ao facto de na verdade a felicidade não ser uma coisa apenas. Existem diferentes experiências e tipos de felicidade que nem sempre são semelhantes e que até podem entrar em conflito. Estar demasiado feliz sobre um determinado aspeto pode ser exatamente a principal razão que nos impede de nos sentir também feliz num outro aspeto.
Por exemplo, procurar viver uma vida gratificante que combine um sucesso profissional com uma vida conjugal estável e satisfatória pode ser um enorme desafio. Sobretudo porque nos limita e impede de perseguir outro tipo de objetivos que porventura nos trariam também felicidade. Não podemos simplesmente escolher passar os dias livremente com os nossos amigos ou viajar com total liberdade. A multiplicidade de formas de estar feliz acaba por determinar que nunca estamos verdadeiramente satisfeitos com a que temos.
- Deixamo-nos enganar pelo nosso passado e pelo nosso futuro
Este é um dilema que distrai a nossa mente e que nos impede de estar mais satisfeitos com o presente momento. Todos estamos familiarizados com pensamentos do género “não será ótimo quando…” (mudar de emprego, casar, tiver filhos, comprar um carro, etc). Da mesma forma é habitual escutar lamentações que referem o quão bom era a vida no passado.
É bastante mais raro ouvirmos alguém expressar o quão bom é o momento presente. Tendemos sempre a acreditar que o nosso futuro ou o nosso passado são melhores.
As promessas futuras de felicidade eterna acompanham as civilizações e religiões há centenas de anos. Esta promessa continua de algo melhor que pode estar para vir pode deixar-nos esperançosos, mas acaba inevitavelmente por retirar substância ao momento presente. Acaba por nos distrair e impedir de apreciar tudo aquilo de bom que experienciamos no momento.
Em relação ao nosso passado é também comum embelezarmos o nosso historial. Tendemos a lembrar com maior detalhe as coisas boas e a esquecer os aspetos mais negativos. Este fenómeno ajuda a explicar porque razão podemos ter uma visão distorcida e demasiado positiva de experiências anteriores na nossa vida.
- Se estivéssemos sempre felizes não seriamos tão ambiciosos ou produtivos
Estas ilusões referentes ao nosso futuro e ao nosso passado, podem na verdade representar igualmente um mecanismo que mantém o ser humano motivado: se o nosso passado é ótimo e se o nosso futuro pode ser ainda melhor, então nada nos impede de ultrapassar os momentos menos bons do presente e atingir algo melhor.
Isto está relacionado com a natureza elusiva da felicidade e com o fenómeno de “passadeira hedonística”, como alguns investigadores referem.
Passamos os dias a trabalhar arduamente para alcançar um objetivo concreto, antecipando a felicidade que este nos irá gerar. No entanto assim que o concretizamos, após um breve momento de satisfação, começamos imediatamente a acreditar que uma próxima outra coisa é que nos vai trazer a real felicidade que procuramos.
Este é um ciclo vicioso que nos mantém permanentemente insatisfeitos. De uma perspetiva evolucionária é exatamente isto que nos faz querer sempre algo melhor, encontrando sempre estratégias para enriquecer a nossa situação presente. Os nossos antepassados que se mostravam mais contentes com o que tinham foram provavelmente aqueles não se conseguiram adaptar e que ficaram “para trás”.
Apesar de parecer algo deprimente esta ideia deve servir sobretudo para nos fazer apreciar os curtos e breves momentos de felicidade que vamos tendo. Reconhecendo e aceitando que eles não vão durar muito tempo. Sabendo que é impossível sentir felicidade em relação a todos os aspetos da nossa vida simultaneamente. Concluindo que ninguém tem tudo aquilo que deseja e como tal reduzindo um dos elementos que mais restringe a nossa felicidade: a inveja.
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