Ao longo da semana serão conhecidos os vencedores dos galardões de Física (03 outubro), Química (04 outubro), Literatura (05 outubro) e Paz (06 de outubro). O anúncio da distinção na área das Ciências Económicas está agendado para 09 de outubro.
Todas as categorias serão anunciadas em Estocolmo, Suécia, exceto o Nobel da Paz que, como habitualmente, será atribuído pelo Comité Nobel Norueguês e terá como cenário o Instituto Nobel Norueguês, em Oslo, e pelo segundo ano com a Europa em guerra.
Na Medicina, as previsões dos especialistas incluem como candidatos favoritos a investigação sobre as células imunitárias capazes de combater o cancro, o estudo da microbiota humana e os trabalhos sobre as causas da narcolepsia.
Algumas curiosidades sobre estes prémios, atribuídos àqueles que trabalharam em “benefício da humanidade”, de acordo com a vontade do seu criador, o inventor sueco Alfred Nobel:
Cerimónias a 10 de Dezembro
Os prémios são anunciados no início de outubro, mas entregues numa cerimónia em Estocolmo, para os prémios científicos (Medicina, Física e Química), Economia e Literatura, e em Oslo, para o Prémio Nobel da Paz, no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do seu fundador, o inventor da dinamite Alfred Nobel (1833-1896).
Em Estocolmo, a cerimónia de entrega dos prémios é seguida de um banquete que reúne cerca de 1.300 convidados na Câmara Municipal, na presença do Rei e da Rainha da Suécia. Em Oslo, cerca de mil convidados assistem à cerimónia na Câmara Municipal de Oslo, seguida de um banquete de menor dimensão no Grand Hotel.
Excluído da cerimónia de entrega dos prémios do ano passado em Estocolmo devido à guerra na Ucrânia, o embaixador da Rússia foi este ano desconvidado por causa da polémica gerada em torno do anúncio do convite pela Fundação Nobel.
No início de setembro, a Fundação Nobel recuou na decisão de convidar “todos os embaixadores” para a cerimónia de entrega, depois de ter recebido “fortes reações” ao convite aos diplomatas da Rússia e da Bielorrússia.
“Decidimos repetir a exceção do ano passado à prática habitual, ou seja, não convidaremos os embaixadores de Rússia, Bielorrússia e Irão para a cerimónia de entrega do Prémio Nobel em Estocolmo”, anunciou então o organismo.
Nobel da Paz em tempo de guerra
O prémio Nobel da Paz recebeu 351 candidaturas este ano, num contexto em que a guerra na Ucrânia se arrasta, a comunidade internacional está fragmentada e as catástrofes se multiplicam.
Os especialistas avançam como possíveis escolhas as mulheres iranianas que, desde a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro de 2022, depois de ter sido detida por alegadamente violar o rigoroso código de vestuário imposto às mulheres, têm vindo a manifestar a sua revolta; os investigadores de crimes de guerra na Ucrânia ou os ativistas que lutam contra as alterações climáticas, numa altura em que o verão de 2023 foi o mais quente alguma vez registado no mundo e em que o mau tempo, os incêndios e as inundações assolam todo o planeta.
“Penso que as alterações climáticas são uma excelente escolha para o Prémio Nobel da Paz deste ano”, defendeu Dan Smith, diretor do Instituto Internacional de Investigação da Paz de Estocolmo (Sipri).
O movimento Fridays for Future, inspirado pela jovem sueca Greta Thunberg, o cacique brasileiro Raoni Metuktire, defensor dos direitos dos povos indígenas, o Tribunal Penal Internacional, as iranianas Narges Mohammadi e Masih Alinejad, a jornalista afegã Mahbouba Seraj e o opositor russo Vladimir Kara-Murza são alguns dos nomes a concurso.
Diversidade na Literatura
No prémio Nobel da Literatura, o outro prémio emblemático, os críticos aguardam a confirmação da promessa de maior diversidade feita em 2019, na sequência do escândalo #MeToo que abalou a Academia sueca.
No ano passado, a Academia sueca premiou a francesa Annie Ernaux, autora de uma obra que narrava a emancipação de uma mulher de origens modestas que se tornou um ícone feminista.
Por outro lado, a promessa de diversidade geográfica só foi parcialmente cumprida, uma vez que, para além do romancista britânico de origem tanzaniana Abdulrazak Gurnah, em 2021, é preciso recuar a 2012, com o escritor chinês Mo Yan, para encontrar um vencedor que não seja europeu nem norte-americano.
Premiados ausentes
Desde 1901, seis laureados da paz não puderam estar presentes na cerimónia do prémio Nobel da Paz em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl Von Ossietzky foi preso num campo de concentração nazi. Em 1975, o físico e dissidente soviético Andrei Sakharov teve de ser substituído pela sua mulher Elena Bonner. Em 1983, o sindicalista polaco Lech Walesa recusou-se a viajar para Oslo por receio de não poder regressar ao seu país.
Em prisão domiciliária, a líder da oposição birmanesa Aung San Suu Kyi, premiada em 1991, foi autorizada pela junta militar a deslocar-se a Oslo, mas absteve-se pelas mesmas razões. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso. A cadeira, sobre a qual foi colocado o prémio, foi simbolicamente deixada vazia.
Já em 2022, o defensor dos direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski foi preso e a sua mulher Natalia Pintchouk representou-o na cerimónia.
Um prémio (quase) só para vivos
Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prémio não pode ser atribuído a título póstumo, a menos que a morte ocorra depois de o nome do vencedor ter sido anunciado. Até esta regra ser escrita, apenas dois suecos falecidos tinham sido premiados: o poeta Erik Axel Karlfeldt (literatura em 1931) e o secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld, presumivelmente assassinado (Prémio da Paz em 1961).
Houve também ocasiões em que um prémio não foi atribuído, em homenagem a um vencedor falecido, como em 1948, após a morte de Gandhi.
Depois de o prémio de Medicina de 2011 ter sido atribuído ao canadiano Ralph Steinman, foi conhecida a sua morte três dias antes. Apesar disso continua a constar na lista dos vencedores.
Mulheres em minoria
Com 60 galardoadas, as mulheres representam apenas 6% do total de prémios desde 1901. A Literatura é um domínio maioritariamente masculino (14,2% de mulheres), enquanto na Paz as mulheres estão um pouco melhor representadas (16%). O Prémio Nobel é uma instituição “para homens”, disse Annie Ernaux, a vencedora francesa do prestigiado Nobel da Literatura, à agência francesa AFP em 2022.
Desde o início do século, 31 mulheres foram galardoadas com o prémio, quase três vezes mais do que nas duas décadas anteriores. Em 2009, um recorde de cinco mulheres ganhou um Prémio Nobel, incluindo a primeira mulher a fazê-lo na Economia, a americana Elinor Ostrom. Foi também uma mulher que se tornou a primeira pessoa a ganhar o prémio Nobel duas vezes: a francesa de origem polaca Marie Curie (física 1903 e química 1911).