Em declarações à Lusa, quando se assinala o Dia Nacional do Doente com Artrite Reumatoide, doença crónica que afeta 70.000 portugueses, o presidente da SPR sublinhou os problemas causados pela portaria que atribui os critérios de decisão terapêutica às comissões de farmácia e terapêutica dos hospitais.
“Eu prescrevo o medicamento que, da minha experiência, é o que as melhores práticas sugerem. Como é de dispensa hospitalar, o doente vai à farmácia hospitalar, que em 109 dos 128 hospitais não tem reumatologistas, não conhece o doente e pode indeferir a minha prescrição”, explicou António Vilar.
O responsável, que é igualmente fundador da Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide, lembrou que a situação está a causar interrupção no acesso e alerta que “há doentes que voltaram a ficar acamados”.
Reconhecendo que a situação não acontece em todas as farmácias hospitalares, António Vilar disse que algumas das decisões são arbitrárias e “não estão em consonância com a portaria”, que refere que “os medicamentos não podem ser mudados com menos de seis meses de intervalo, por questões de segurança”.
O especialista disse ainda que não há razões de segurança que impeçam que estes medicamentos possam, à semelhança de outros, ser disponibilizados nas farmácias comunitárias.
“A realidade hoje é muito diferente, estes fármacos têm o mesmo risco de segurança do que outros das farmácias comunitárias. (…) Têm já uma experiência de 23 anos em Portugal e, nalguns casos, custam 38 euros/mês”, acrescentou.
António Vilar lembrou que a SPR tem o maior registo ativo de doentes em Portugal, que pode ser usado para que a prescrição possa ser auditada.
“Não é criando dificuldades à prescrição e ao acesso que se resolve o problema dos custos da medicação. O que se deve fazer é pela exigência no rigor, para que quem precisa tenha efetivamente acesso”, defendeu.
O responsável sublinhou ainda que, para que os doentes possam ser tratados com rigor, “é preciso que cheguem ao reumatologista”, pedindo que a rede de referenciação nacional seja aplicada e haja reumatologistas em grandes hospitais onde hoje não existem, dando o exemplo o Santo António, no Porto, e o Fernando da Fonseca, na Amadora.
“O que pedimos é que se consiga aplicar o que está previsto na rede nacional de reumatologia, publicada pela primeira vez em 2000″, afirmou.
“Como é que se compreende que um grande hospital como o Santo António, no Porto, ou o Fernando da Fonseca, não prestem cuidados reumatológicos diferenciados às suas populações?”, questionou.
António Vilar disse que trabalham no Serviço Nacional de Saúde cerca de 200 reumatologistas, mas não estão bem distribuídos no território nacional.
O especialista insistiu que o facto de os doentes não serem acompanhados com rigor resulta “em mais despesa”.
“São pessoas com incapacidades, com reformas antecipadas, menos produtividade e menos impostos pagos”, lamentou.
Segundo os dados da SPR, a prevalência da artrite reumatoide na população portuguesa será de 0,5-0,7% , atingindo um pico de incidência na faixa etária dos 25 aos 55 anos.
A dor intensa, inflamação articular que pode gerar incapacidade para executar movimentos, fadiga intensa e anemia, que podem ser debilitantes e interferir nas atividades diárias são alguns dos sintomas mais graves da artrite reumatoide, doença potencialmente destrutiva das articulações.
De acordo com a SPR, o tratamento precoce, com supressão da inflamação nas fases iniciais da doença, pode resultar em menor incapacidade e sofrimento, sendo possível, em muitos casos, devolver ao doente uma vida perfeitamente normal. Até 90 % dos doentes podem ficar sem sintomas e, muitos deles, entram em remissão, conseguindo fazer uma vida sem limitações.
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