Mesmo sendo um tipo de tumor pouco frequente, os gliomas difusos afetam dezenas de pessoas todos os anos em Portugal e exigem uma abordagem médica complexa e multidisciplinar.
Os gliomas difusos incluem, entre outros, os gliomas difusos da linha média, antigamente designados por DIPG. Estes tumores surgem no cérebro e na medula, infiltrando o tecido nervoso sem limites nítidos. Nos gliomas de alto grau, como o glioblastoma, a incidência ronda os 2 a 3 casos por cada 100 000 pessoas por ano na Europa e Norte‑América.
Os primeiros sinais muitas vezes mimetizam problemas musculoesqueléticos: dores cervicais ou lombares, queixas comuns em consultas de ortopedia ou medicina geral. No entanto, entre 15% a 20% dos casos de glioma da fossa posterior ou linha média têm como sintoma inicial dor nas costas ou no pescoço .
Deve estar alerta se estas dores vierem acompanhadas de sinais subsidiários:
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Dor cervical ou dorsal com náuseas matinais, sem relação com o sistema digestivo
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Rigidez na nuca, visão turva ou dupla
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Dor que intensifica ao deitar-se, associada a pressão intracraneana
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Alterações motoras ou cognitivas súbitas, como mudanças de personalidade
Estes sintomas surgem porque o tumor cresce e comprime áreas do cérebro ou medula, desencadeando sinais neurológicos claros
O diagnóstico de glioma difuso baseia-se, sobretudo, na ressonância magnética (RM) do cérebro e da coluna, que revela lesões difusamente infiltrativas com margens imprecisas . Em casos selecionados, realiza-se biópsia estereotáxica, uma técnica minimamente invasiva que permite confirmação histológica e análise molecular – fundamental para definir subtipos como o “H3‑K27M” .
Este processo exige a vigilância de diferentes especialistas: neurologista, neurocirurgião, neuroradiologista e patologista são essenciais para um diagnóstico correto
Dados mostram que cerca de 30% dos pacientes com glioma consultaram primeiro por dores nas costas ou pescoço, e o diagnóstico levou entre três a seis meses . Este atraso é preocupante, pois reduz as opções terapêuticas e piora o prognóstico.
O tratamento principal é a radioterapia, que pode estabilizar ou retardar a progressão tumoral por alguns meses — mas não é curativo. Terapias sistémicas, como a quimioterapia tradicional, têm eficácia limitada por barreiras biológicas como a barreira hematoencefálica .
Em tumores pediátricos como o DIPG, a expectativa de vida média é inferior a um ano após o diagnóstico, com apenas 10% dos doentes a vencerem os dois anos.
Para melhorar o prognóstico, é crucial que os médicos:
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Considerem o glioma em casos de dor persistente com sintomas neurológicos associados
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Realizem RM atempadamente, sem esperar meses por evolução dos sintomas
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Garantam uma abordagem interdisciplinar, que integre a confirmação molecular e terapias inovadoras