O músico Eu.Clides venceu o Prémio José Afonso 2022, com “Reservado”, “um trabalho de estreia muito promissor, de um artista muito completo”, anunciou hoje o júri do galardão, atribuído anualmente desde 1988 pela Câmara Municipal da Amadora, avança a Lusa.
O júri decidiu, “por unanimidade”, premiar o EP de Eu.Clides “por ser um trabalho de estreia muito promissor, de um artista muito completo (compositor, produtor, guitarrista, letrista, cantor) que representa, pelo seu rasgo e qualidade musical, o que de melhor se faz atualmente no panorama cultural português”, referiu a Câmara Municipal da Amadora, num comunicado hoje divulgado.
Com este prémio, os jurados “quiseram celebrar a capacidade [de Eu.Clides] de experimentar novas sonoridades, tendo como âncora a música de Cabo Verde, na linha do que José Afonso sempre concretizou: o cruzamento entre tradição e renovação”.
Eu.Clides nasceu em 1996 em Cabo Verde. Um ano depois, mudou-se para Portugal, onde aos 8 anos começou a estudar guitarra clássica no Conservatório de Aveiro. “Só parei os estudos de guitarra clássica com 19, 20 anos, já em Paris”, onde vive atualmente, recordou, em entrevista à Lusa, em março.
Antes de começar a carreira a solo, e já a viver na capital francesa, acompanhou o grupo senegalês Daara J Family em digressão, e mais tarde passou a fazer parte da equipa da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade.
A solo, além de guitarrista, acabou por se tornar também cantor por sentir que “quando cantava acabava por conseguir transmitir mais coisas às pessoas”.
Em 2020, divulgou o primeiro tema, “Terra-Mãe”, uma homenagem à Liberdade e ao 25 de Abril de 1974.
Seguiram-se “Ir para quê?” e “Tempo Torto”, este último em colaboração com Branko, com quem voltaria a trabalhar nos temas do EP “Reservado”, editado em 2021, ano marcado também pela participação no Festival da Canção e pelos primeiros concertos a solo.
Em março deste ano editou o álbum de estreia, “Declive”, que se posiciona “no centro” de todos os sítios por onde passou, da música clássica à eletrónica, passando pelo gospel e pelos sons de Cabo Verde.
O júri do Prémio José Afonso 2022 atribuiu ainda uma menção honrosa a Rita Vian, por “Caos’a”, o primeiro registo em nome próprio, produzido pelo músico Branko.
“‘Caos’a’, um álbum com letras poéticas, muito bem escritas e muito bem cantadas num casamento feliz entre melodias vocais que aludem à música tradicional portuguesa e ao fado e à música eletrónica de Branko, recebe a única menção honrosa, como forma de o destacar no âmbito da nova música portuguesa”, lê-se no comunicado da autarquia.
O EP, composto por cinco temas, musicalmente “é uma mistura de géneros que estão todos fundidos em Lisboa e no crescimento [da artista], entre a escrita do hip-hop, entre o fado, a tragédia, o amor, a saudade e algum existencialismo a pensar nas coisas”, descreveu à Lusa em junho de 2021, altura em que foi editado.
Rita Vian ainda estudou para seguir jornalismo, passou pelo Hot Clube de Portugal, pela Escola Metropolitana de Lisboa, teve aulas de piano, mas tudo foi feito de forma desprendida e com o objetivo de compreender a música que queria fazer.
O júri do Prémio José Afonso 2022 foi constituído por Sérgio Azevedo (em representação da Câmara Municipal da Amadora), por Pedro Teixeira da Silva (em representação do Teatro Nacional de São Carlos) e pela ‘rapper’ Capicua, que venceu o Prémio José Afonso 2021 com o álbum “Madrepérola.
O Prémio José Afonso “tem como objetivo homenagear o cantor e compositor português José Afonso, preservando e perpetuando a obra do autor”, sendo a atribuído a um álbum editado no ano ou nos anos anteriores ao da edição do prémio.
Além disso, este prémio “visa incentivar a criação musical de raiz portuguesa, galardoando temas que tenham como referência a Cultura, a Língua, a História e a Música Popular Portuguesa”.