Conhecido por prever com exatidão o surgimento do iPhone, o boom da internet e até a vitória de um computador sobre um campeão de xadrez, Kurzweil acredita que estamos a apenas quatro anos de alcançar a chamada “velocidade de escape da longevidade”.
Este conceito, conhecido como longevity escape velocity (LEV), sugere que os avanços médicos e tecnológicos estarão a progredir tão rapidamente que conseguirão prolongar a vida mais depressa do que o corpo humano envelhece.
“Já conseguimos desenvolver vacinas contra a COVID-19 em apenas 10 meses. A sequência genética foi feita em dois dias. Isso mostra a rapidez dos avanços científicos”, afirmou Kurzweil em entrevista à Bessemer Venture Partners.
Segundo o futurista, áreas como a edição genética, vacinas mRNA, inteligência artificial aplicada à descoberta de fármacos e a biologia sintética estão a avançar a um ritmo exponencial. São esses progressos que, segundo ele, tornam realista a possibilidade de travar o envelhecimento biológico num futuro muito próximo.
É importante esclarecer que a ideia não é tornar as pessoas imortais. Como o próprio Kurzweil explica, “isto não significa que alguém vá viver para sempre. Ainda podemos morrer por acidentes, doenças ou causas imprevisíveis. Mas morrer simplesmente de velhice poderá deixar de ser inevitável”.
A teoria, no entanto, não é consensual. Muitos cientistas, como o bioquímico Charles Brenner, alertam para o excesso de entusiasmo em torno da longevidade extrema. “O envelhecimento é uma característica fundamental da vida. Não é algo que possamos simplesmente apagar”, argumenta Brenner.
Outros investigadores destacam que, embora tratamentos tenham conseguido aumentar a longevidade em animais, os mesmos resultados ainda não foram replicados com sucesso em humanos.
Mesmo que a ciência consiga, de facto, ultrapassar os limites da idade, surgem desafios importantes: o acesso à tecnologia poderá ser altamente desigual. Terapias genéticas, medicina de precisão ou nanobots ainda são muito caros e estão longe de estar amplamente disponíveis.
Kurzweil admite que a adoção massiva será um grande obstáculo, mas mantém-se otimista quanto ao futuro.
“Estamos a ver avanços incríveis na simulação biológica e na medicina regenerativa. Os próximos cinco anos serão decisivos”, garante.
Os avanços recentes são impressionantes:
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Tecnologia mRNA já está a ser usada para vacinas contra o cancro.
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CRISPR, a ferramenta de edição genética, está em ensaios clínicos para tratar doenças hereditárias.
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Reprogramação celular em ratos mostrou sinais promissores de reversão do envelhecimento.
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AlphaFold, da DeepMind, decifrou a estrutura de milhões de proteínas — uma revolução na descoberta de medicamentos.
Além disso, cientistas já conseguem cultivar órgãos em laboratório e estão a trabalhar na regeneração de tecidos danificados. Para Kurzweil, tudo isto aponta para um “ponto de viragem” iminente.
Apesar do cepticismo de muitos na comunidade científica, a visão de Kurzweil toca num desejo profundamente humano: o de vencer a mortalidade. A promessa não é de uma pílula mágica ou uma solução milagrosa, mas de uma nova era em que envelhecer será apenas uma das muitas possibilidades — e não uma sentença.
Se estiver certo, os anos 2030 poderão marcar o início de uma nova relação com a vida, com a saúde e com o tempo. Um futuro em que viver mais — e melhor — será a regra, e não a exceção.