A 3 de janeiro, foi confirmado um foco de infeção por vírus da gripe aviária de alta patogenicidade (GAAP) numa exploração de galinhas poedeiras, em São João das Lampas, em Sintra, refere a DecoProteste. Em comunicado, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) explica que já foram implementadas “medidas de controlo e erradicação do foco”. Em causa estão ações de inspeção ao local onde a doença foi detetada, a eliminação dos animais afetados, a limpeza e desinfeção das instalações, a restrição da movimentação e a vigilância das explorações com aves situadas nas zonas de restrição, num raio de até 10 quilómetros em redor do foco, avança a DecoProteste.
«Em agosto tinha também sido detetada gripe das aves numa exploração de aves de capoeira no distrito de Viana do Castelo e, no final de julho, foram encontrados vários casos de infeção por vírus da gripe aviária de alta patogenicidade, do subtipo H5N1, em aves selvagens nas várias regiões do território do Continente. Mas, afinal, quais os riscos de transmissão de gripe das aves para humanos? Podemos continuar a consumir carne de aves ou ovos?», é referido
A DECO PROteste esclarece algumas dúvidas sobre a gripe das aves.
O que é a gripe das aves?
Existem quatro tipos de vírus da gripe (vírus influenza): os tipos A, B, C e D. Os vírus da gripe A e B circulam e causam epidemias sazonais de doença em humanos, embora apenas os vírus do tipo A possam causar pandemias globais, de acordo com o conhecimento científico atual. Estes últimos estão estabelecidos em muitas espécies animais e são classificados em subtipos, de acordo com as combinações das proteínas na superfície do vírus. No caso dos vírus influenza A – os que estão associados às gripes mais graves em humanos –, são conhecidos os subtipos H3N2 (gripe humana comum), H7N7 (gripe aviária de 2003, na Holanda), H5N2 e H5N1 (gripe aviária, que já afetou alguns humanos).
O vírus da gripe aviária influenza A (H5N1), também conhecido por gripe das aves e que agora foi detetado numa exploração de aves em Portugal, é um vírus de RNA em cadeia simples, tal como os outros vírus da gripe. Este vírus é destruído pelo calor (a 56ºC, em três horas ou a 60ºC, em 30 minutos) e por alguns desinfetantes (por exemplo, compostos de formalina ou iodo), mas sobrevive a temperaturas baixas (a 22ºC, durante quatro dias ou a 0ºC, durante mais de 30 dias).
A gripe A é igual à gripe aviária A?
Não. A gripe aviária influenza A, ou gripe das aves, é uma doença provocada por um vírus influenza A de origem animal, o que significa que a sua transmissão ocorre de animais para humanos. A gripe A é uma gripe humana comum, que se transmite entre humanos.
A gripe das aves pode infetar humanos?
Pode. No entanto, a transmissão de animais para humanos é muito rara. A infeção ocorre quando o vírus da gripe das aves é inalado ou entra nos olhos, nariz ou boca, ou seja, através do contacto direto ou contacto com superfícies onde estiveram aves infetadas com a doença.
Apesar de já terem sido reportados alguns casos de transmissão deste vírus entre humanos, este modo de transmissão é muito improvável, uma vez que a gripe aviária influenza A (H5N1) é uma doença provocada um vírus específico de algumas espécies de aves.
Posso apanhar gripe das aves se consumir carne e ovos de animais infetados com este vírus?
A evidência científica tem mostrado que este vírus não se transmite aos humanos através da alimentação. Não existem, por isso, quaisquer motivos para deixar de consumir carne de aves ou ovos.
Contudo, há outras doenças das aves, como a salmonelose e a campilobacteriose, que se transmitem aos humanos através de carnes pouco cozinhadas. Por isso, por precaução, só deve consumir carne de aves e ovos que durante o processo de cozedura tenham atingido os 70ºC, temperatura que garante a destruição do vírus H5N1, assim como a destruição da Salmonella, da Campylobacter jejuni ou de outras bactérias.
Quais os sintomas da gripe humana provocada pelo vírus H5N1?
O período de incubação da infeção por influenza A (H5N1) em humanos é de dois a quatro dias.
Os sintomas iniciais da doença são febre alta (tipicamente superior a 38ºC) acompanhada de:
- rinite aguda;
- conjuntivite;
- faringite;
- ou pneumonia.
Em alguns casos, são também reportados sintomas como diarreia, vómitos, dores abdominais, sangramento do nariz ou encefalite. Inicialmente, não é fácil distinguir esta doença de outros tipos de pneumonia, gastroenterite aguda ou encefalite. Por isso, é importante saber o historial do doente, nomeadamente que viagens fez recentemente ou qual a sua atividade profissional (pessoas que trabalhem com aves têm maior risco). Já em casos mais graves, a doença pode evoluir para sintomas como falhas respiratórias progressivas, que podem resultar na morte da pessoa infetada.
Como se trata a gripe humana provocada pelo vírus H5N1?
A uma pessoa infetada ou com suspeita de gripe A (H5N1) devem ser administrados antivirais (por exemplo, oseltamivir e zanamivir). Quanto mais precocemente a doença for detetada e a medicação for administrada (logo após os primeiros sintomas), maior a eficácia terapêutica.
Atualmente, estão autorizadas três vacinas na União Europeia (UE) para utilização durante surtos de gripe aviária (sem que tenha sido declarada uma pandemia), nomeadamente para proteger os trabalhadores do setor avícola, médicos veterinários e outras pessoas com risco acrescido de exposição. Além disso, existem também quatro vacinas contra a gripe autorizadas na UE pré-preparadas e que podem ser rapidamente modificadas para proteger as pessoas em situações de pandemia.
Há risco de ser declarada uma pandemia?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), vão existir pandemias no futuro. No entanto, é difícil prever quando, onde e como se podem propagar. Com o aumento das viagens ao nível mundial, e a consequente circulação de pessoas, uma pandemia pode propagar-se rapidamente. Uma pandemia de gripe aviária pode ocorrer se surgir um vírus da gripe com a capacidade de causar uma transmissão sustentada de pessoa para pessoa e a população humana tiver pouca ou nenhuma imunidade contra o vírus, tal como aconteceu com a covid-19 ou com a gripe A (H1N1), em 2009.
Atualmente, o vírus H5N1, tal como se conhece, não representa um risco de pandemia, uma vez que a transmissão entre humanos é muito difícil. No entanto, os receios de uma pandemia podem justificar-se porque pode ocorrer uma recombinação do vírus H5N1 que faça com que seja possível passar a infetar facilmente as células humanas e transmitir o vírus de pessoa a pessoa. Pode também ocorrer uma mutação espontânea na genética do vírus H5N1 que permita que este se torne transmissível entre humanos, mas este cenário é menos provável.