Os resultados, publicados em Nature Neuroscience, mostram que só algumas dezenas de células podem ter um impacto profundo no comportamento
É difícil imaginar que apenas meio milhar de células, entre os milhares de milhões do cérebro, consiga influenciar de forma tão significativa o comportamento alcoólico. Mas é exatamente isso que o estudo liderado pelo professor Gilles E. Martin sugere
Usando técnicas avançadas como fotometria de fibra, optogenética, eletrofisiologia e transcriptómica de célula única, os cientistas mapearam com precisão este conjunto neuronal específico dentro do córtex orbitofrontal medial, uma área associada à tomada de decisão e controlo emocional
O progresso baseou-se num modelo experimental inovador que permite marcar os neurónios ativados durante episódios de binge. Estes neurónios surgem com uma proteína fluorescente que pode ser imediatamente detetada em tempo real
Através da optogenética, os cientistas conseguiram ligar e desligar o grupo neuronal como se fosse um interruptor, observando diretamente o impacto no comportamento dos animais. Ao desativar este conjunto, os ratinhos começaram a consumir muito mais álcool — revelando que estas células funcionam como um verdadeiro freio ao consumo excessivo
A existência desses neurónios inibidores sugere uma possível via para futuros tratamentos da dependência ao álcool — utilizando métodos que estimulem seletivamente este circuito cerebral, minimizando os efeitos secundários típicos dos fármacos gerais .
Embora ainda não esteja comprovada a existência do mesmo mecanismo em humanos, esta descoberta pode inspirar novas abordagens com terapias génicas ou neuromodulação.
Por que importa?
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O consumo excessivo de álcool é um problema de saúde pública global: causa cerca de 3 milhões de mortes anuais e está ligado a mais de 200 doenças
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A identificação de um circuito cerebral tão específico abre caminho a tratamentos mais eficazes e menos invasivos.
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A capacidade de identificar e modular apenas algumas dezenas de células cerebrais representa um salto na precisão terapêutica.
Descoberta | Detalhe |
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Neurónios envolvidos | < 500, no córtex orbitofrontal medial |
Função | Inibir o consumo excessivo de álcool |
Métodos | Fotometria, optogenética, transcriptómica |
Resultados nos ratos | Desligar este circuito aumenta o consumo |
Potencial terapêutico | Abordagens locais — neuromodulação/génica |
O estudo liderado por Gilles E. Martin revela que a nossa capacidade de controlar ou exagerar no consumo de álcool pode estar ligada a um grupo neuronal extremamente restrito. Ao identificar este grupo, os cientistas deram um passo decisivo rumo a novas abordagens terapêuticas que possam tratar a dependência alcoólica de forma dirigida, eficaz e com menos efeitos colaterais.
Em resumo, a ciência está a mostrar que, por vezes, menos é mais — e que apenas algumas dezenas de células podem definir a linha entre a moderação e o excesso.