Opinião: A prevenção da obesidade é um investimento fundamental

Artigo de opinião de Gil Faria, cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde, professor da FMUP e investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

A luta contra a obesidade é uma necessidade global, que cada vez menos podemos ignorar. Com o aumento da taxa de obesidade, em todo o mundo, é fundamental reconhecer o papel da prevenção como a arma mais eficaz nesta batalha. De acordo com a OMS, mais de 38% da população tem excesso de peso e 14% sofre de obesidade. Isto representa quase mil milhões de pessoas em todo o mundo que, diariamente, lutam contra a doença.

O impacto económico estimado da obesidade é de mais de 2 triliões de dólares anualmente e nos países desenvolvidos representa 5-10% de todos os gastos em saúde. Estes números demonstram que a obesidade impacta não apenas a saúde individual, mas a prosperidade de toda a sociedade, causando grande tensão nos serviços de saúde.

A somar a isto temos o impacto, dificilmente medido, na qualidade de vida das populações, dos dias de trabalho perdidos por doenças associadas à obesidade e pelas adaptações ao estilo de vida impostas pelas limitações físicas e psicológicas dependentes da obesidade.

A prevenção da obesidade começa com o conhecimento e a educação acerca da doença. É necessário perceber os fatores de risco, tais como hábitos alimentares, sedentarismo, mas também propensão genética. E perceber que, tal como na obesidade que aumenta pouco a pouco, mas de forma progressiva, pequenas mudanças no dia a dia podem trazer uma grande diferença, a longo prazo.

Neste contexto, a prevenção assume muitas formas. Pode ser uma aula de ioga ou uma corrida pela manhã; pode ser uma escolha consciente de alimentos nutritivos ou simplesmente resistir àquela tentação que nos conforta.

Aumentar a atividade física diária é fundamental. O exercício, além de queimar calorias, aumenta a massa muscular, melhora a saúde cardiovascular e promove o bem-estar mental.

E claro, que a alimentação também desempenha um papel crucial. É fundamental aprender (e ensinar) a comer de forma mais saudável. Incluir frutas e vegetais numa dieta equilibrada e evitar alimentos ultraprocessados (ricos em gorduras e pobres em proteínas), pode ajudar a manter uma dieta sustentável, equilibrada e contribuir para manter um peso saudável.

No entanto, o atual mundo moderno e frenético impede, muitas vezes, a possibilidade de cuidarmos da nossa saúde.

Imagine um estudante universitário, embrenhado na sua fast-food tanto quanto afogado nos livros; ou a Maria, uma mãe trabalhadora de 40 anos, que tenta equilibrar a carreira, a vida familiar e a vida social e que tem necessidade de recorrer a comidas pré-cozinhadas e desafiar as tentações de uma loja de chocolates ou do corredor das batatas fritas. Muitas vezes, a balança da vida pende para o lado da facilidade gastronómica e não da nutrição equilibrada.

Assim, torna-se urgente encarar a prevenção da obesidade não como mais um fardo, mas como um investimento fundamental na nossa saúde e bem-estar. Tal como dedicamos horas ao estudo para alcançar objetivos académicos ou temos dias preenchidos para cuidar da carreira e da família, devemos reservar tempo para cuidar do nosso corpo. Afinal de contas, só temos um… e temos que conviver com ele toda a vida!

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