8 mitos sobre a Gripe Espanhola de 1918 que tem mesmo de esquecer

Compreender melhor o que realmente aconteceu no passado poderá ajudar-nos a lidar com o atual surto de Covid-19. Proteja-se contra a desinformação.

Não há dúvida que todos estamos assustados. “Pandemia” é uma palavra que faz estremecer até os mais fortes entre nós. Temos medo, sobretudo porque se torna difícil compreender tudo sobre o tema, sobre o vírus que está a afetar uma determinada população. No entanto é importante relembrar que a humanidade já enfrentou várias (e mais graves) pandemias.

A gripe espanhola de 1918 é uma das pandemias mais conhecidas e relembradas pelos livros de História. Foi sem dúvida uma das mais mortais. Estima-se que tenham morrido entre 50 a 100 milhões de pessoas devido a esta gripe. 500 milhões de pessoas infetadas no total, cerca de um quarto de toda a população mundial na época.

Este surto de gripe ficou igualmente conhecido por ter uma estranha predileção por adultos aparentemente saudáveis, ao invés de afetar mais os grupos habituais de maior risco (idosos e crianças).

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Ao longo das décadas que se seguiram muitos foram os historiadores, cientistas ou “especialistas” que procuram compreender melhor esta pandemia de 1918. Têm estado particularmente interessados em compreender a sua origem, alcance e todos efeitos que provocou. Inevitavelmente muitas teorias menos científicas foram também surgindo, criando alguns mitos que até hoje parecem difíceis de “quebrar”.

Corrigir algumas destas ideias erradas é não só importante para esclarecer tudo sobre o Passado, como é também importante para compreender e contextualizar o presente que infelizmente agora enfrentamos.

Conheça aqui alguns destes principais mitos, aprenda a distinguir a ficção da realidade.

 

1. A pandemia teve a sua origem em Espanha
Nada aponta para que a pandemia de 1918 tenha tido a sua origem no território espanhol. O facto de ter adquirido a alcunha de “gripe espanhola” está antes relacionada com o contexto histórico da altura, numa época em se desenrolava a Primeira Guerra Mundial. Durante os anos de batalhas, muitas eram as evidências de que este tipo de gripe estava já a afetar as tropas de muitas das principais nações em guerra. No entanto, como forma de não revelar fraqueza e para não encorajar o inimigo, países como a França, como a Áustria e como a Alemanha, escondiam e abafavam esta situação, assim como grande parte dos relatos.

Dado que Espanha era um país neutral e não ganhava nada em esconder a crise de saúde a que estava a assistir, foi bastante mais visível no combate à doença. Criando a falsa impressão de que existiam muitos mais casos neste país em comparação com os outros.

Até aos dias de hoje é debatido pelos especialistas qual será a origem da gripe espanhola de 1918. Alguns apontam para o sudeste asiático, para a Europa Central ou até para o Kansas, nos EUA.

2. A pandemia foi causada por um “super-vírus” mortal
A gripe espanhola de 1918 espalhou-se pelo Mundo com uma incrível rapidez, matando cerca de 25 milhões de pessoas nos primeiros 6 meses. Criou-se a ideia de que este vírus iria acabar com a Humanidade. No entanto os estudos mais recentes demonstram que apesar de o vírus ser ligeiramente mais mortal que outras estirpes, não tinha nada de muito diferente quando comparado com outras epidemias.

A alta taxa de mortalidade pode ser sobretudo explicada pelos ajuntamentos provocados pelas batalhas da Primeira Guerra Mundial e pelas terríveis condições sanitárias e nutricionais de muitos dos combatentes.

3. O vírus matou a maior parte das pessoas infetadas
Em verdade, a maior parte das pessoas que contraiu o vírus sobreviveu. As taxas de mortalidade na maioria dos países não ultrapassaram os 20%. De qualquer forma este continua a ser um número bastante alto que excede em grande medida os números habituais da gripe sazonal – cuja taxa de mortalidade raramente ultrapassa os 1%.

4. Os tratamentos da altura tiveram poucos efeitos
Em 1918 não existiam antivirais capazes de enfrentar a epidemia. No entanto isso ainda acontece em muitos casos nos dias de hoje. Os tratamentos médicos costumam habitualmente centrar-se no tratamento de sintomas e suporte do que propriamente na cura do paciente.

Uma hipótese defende inclusive que muitas das mortes podem ter sido provocadas pelas altas doses de aspirina que os médicos inadvertidamente administravam aos seus pacientes. Este terá sido um erro de tratamento que acabou por originar inúmeras complicações adicionais nos pacientes.

5. A pandemia dominou o ambiente mediático
Tal como referido anteriormente, muita da “cobertura” sobre este vírus foi abafada pelas principais potencias e nações mundiais. Como forma de se protegerem dos inimigos e de potenciais sinais de fraqueza, muita da verdadeira severidade do problema foi escondida do público em geral. No entanto no auge da pandemia muitas cidades foram obrigadas a decretar quarentenas como forma de se protegerem, tal como tem acontecido atualmente devido ao surto Covid-19.

6. A pandemia alterou o rumo da Primeira Guerra Mundial
É pouco provável que a gripe espanhola de 1918 tenha tido um grande efeito no desfecho da Primeira Guerra Mundial. Ambos os “lados” foram semelhantemente afetados, pelo que existiu um certo equilíbrio nesse sentido. Por outro lado, é absolutamente evidente que a Guerra afetou e contribuiu para o alastrar rápido da pandemia, criando circunstância ideais para contágios.

7. A imunização à escala mundial acabou com o surto
A imunização contra a gripe não foi levada a cabo pelas autoridades em 1918, pelo que não desempenhou nenhum “papel” no combate à crise.

A exposição a estirpes anteriores de gripe acabou por oferecer alguma proteção. Por exemplo, os soldados que já serviam no exército há mais anos revelaram ter taxas de mortalidade mais baixas. De resto, o vírus em constante mutação acabou por provavelmente se desenvolver para estirpes menos mortais.

8. O Mundo não está hoje melhor preparado do que estava em 1918 para lidar com uma pandemia
Graves epidemias tendem a ocorrer de tempos a tempos. O surto de Covid-19 é apenas a mais recente. No entanto é inquestionável que os cientistas estão agora melhor preparados para lidar com estas situações, compreendendo exatamente como devem isolar e gerir pacientes infetados.

Para além dos medicamentos agora existentes (antibióticos, vacinas e antivirais), existe igualmente uma maior compreensão por parte da sociedade em relação às regras de higiene que devemos seguir. Uma maior consciencialização para a importância de lavar as mãos e para o distanciamento social torna mais eficaz o combate a este tipo de pandemias.

 

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