O ator Luís Aleluia, que morreu na sexta-feira aos 63 anos, somava uma carreira de quatro décadas, marcada por papéis de comédia, sobretudo nos palcos e na televisão, mas via no drama o seu “maior desafio”, avança a Lusa.
O cabo Júlio Gameiro, personagem que assumiu em mais de 600 episódios de “Bem-vindos a Beirais”, da RTP, permitiu perceber as muitas facetas do ator, que nunca deixou de ser o Menino Tonecas, mas o seu trabalho é extenso, atravessa todos os géneros, do teatro de revista ao teatro de Tchekhov.
Luís Filipe Aleluia da Costa nasceu em Setúbal a 23 de fevereiro de 1960, numa família separada e pobre, o que o levou à Casa do Gaiato, na terra natal, onde viveu durante sete anos, e onde aprendeu os “valores que ficam para a vida”, como disse em entrevista a Manuel Luís Goucha, na TVI, em 2021, quando completava 40 anos de carreira: lealdade, fraternidade, cumplicidade, “o valor do trabalho, o respeito pela liberdade do outro”.
O gosto pelo palco teve origem na infância, nos anos de 1960-1970, com as galas da Casa do Gaiato e atuações em diferentes grupos amadores, seguindo-se a profissionalização, na viragem para a década de 1980, no Teatro de Animação de Setúbal (TAS).
O maior sucesso vem de 1996, quando recuperou “As Lições do Tonecas”, com o ator José Morais e Castro, na RTP, e transformou o antigo programa de rádio das décadas de 1930-1940, de José de Oliveira Cosme, numa produção de quatro temporadas e 50 episódios.
“As Lições do Tonecas” multiplicaram-se ainda por espetáculos levados às comunidades portuguesas, em todo o mundo, e deram origem a especiais como “O Natal do Toneacas”, “As Férias de Tonecas” e “Tonecas Regressa às Aulas”.
Na altura, Luís Aleluia já levava perto de 20 anos de carreira, entre palcos e televisão.
A base do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tem na revista “Há, mas são verdes!”, o registo mais antigo da sua presença em palco. Foi em 1982, no Teatro Variedades, em Lisboa.
No ano seguinte, entrou para o elenco do Teatro Maria Vitória, afirmando-se em “Quem me acaba o resto?”, num percurso que se estenderia de espetáculos como “O Bem Tramado” a “Vamos contar mentiras”, este já de 2011, no Teatro Villaret, passando por “O Vison Voador” e “Por favor, matem a minha mulher”, em palco e na televisão.
Ao longo dos anos, entre muitas outras produções, atuou em “Piaf!”, no Casino Estoril, em “A Curva da Felicidade”, de Eduardo Galán e Pedro Gómez, no Centro Dramático de Oeiras, e em “Partitura Inacabada”, sobre “Platonov”, de Anton Tchekóv, no Teatro da Trindade.
Numa entrevista ao Correio da Manhã, em 2013, confessou que o seu “maior desafio” não era o humor, “mas o drama”.
Entrou em séries como “Os Homens de Segurança”, “Sétimo Direito” e “O Cacilheiro do Amor”, e em produções como “Alves dos Reis” e “O Processo dos Távoras”.
Telenovelas como “Passerelle”, “Na Paz dos Anjos” e “Filha do Mar” colocaram-no no horário nobre das diferentes televisões, assim como ‘sketches’ de comédia que levou a “Os Malucos do Riso”, na SIC, “Não és homem, não és nada” e “Os Donos Disto Tudo”, na RTP, ou a programas como Praça da Alegria e Portugal no Coração.
A atividade mais recente do ator foi anunciada pela produção de “Festa é Festa”, da TVI, com a gravação de cenas ainda inéditas para a novela.
No passado dia 12, Luís Aleluia desfilou com a Marcha do Bairro Alto, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e foi padrinho da Marcha Infantil da Misericórdia, como dá conta esta junta de freguesia.
Na página oficial do ator, na rede social Instagram, a sua mais recente mensagem, cortada pela fotografia, é recuperada por amigos: “Memória de nós são pedaços da gente que se colam no coração dos outros.”
Do dia 26 de maio, vem outra publicação, com o ator à entrada do Teatro Villaret, ao lado do lema de Raul Solnado que também fez seu: “Façam o favor de ser felizes.”