Hoje, dia 6 de março, assinala-se o Dia Europeu da Terapia da Fala. Esta profissão abrange uma imensidão de áreas, algumas pouco faladas. Hoje abordamos um diagnóstico menos conhecido.
Antes de mais, importa esclarecer que falar demasiado rápido, por si só, não significa que alguém precise de terapia da fala. Quando é que faz sentido procurar ajuda? Se a forma de falar compromete a inteligibilidade – ou seja, se os ouvintes têm dificuldade em compreender o discurso, – isso pode tornar-se frustrante. A pessoa é frequentemente solicitada a repetir o que disse e, afinal, quem gosta de estar sempre a repetir-se? Tanto para crianças como para adultos, uma fala impercetível pode ser um obstáculo a nível pessoal e profissional/escolar.
Contudo, ainda que existam técnicas para melhorar a velocidade e a clareza do discurso, a rapidez da fala, por si só, não constitui um diagnóstico clínico.
Quando é considerado um diagnóstico clínico?
O discurso acelerado, com pausas escassas ou em momentos inesperados e a falta de clareza do discurso passam a fazer parte de um diagnóstico quando em conjunto com outros critérios, que menciono em seguida:
Articulação imprecisa; Repetições de sílabas e sons iniciais, em número superior ao esperado;
Omissão ou colapso de sílabas; Retrocessos no discurso (voltar atrás para reformular); Saltos entre ideias, tornando o discurso confuso; Circunlóquios (explicações longas por dificuldade em aceder rapidamente à palavra exata).
Neste caso passamos a ter um diagnóstico clínico de Taquifemia. Esta é uma Perturbação da Fluência, tal como a Gaguez. Estas perturbações caracterizam-se por uma irregularidade no ritmo da fala. A pessoa com Taquifemia pode ter também fragilidades na auto monitorização da fala e uma tendência para interromper os outros.
Tal como na gaguez, as causas da taquifemia são multifatoriais, envolvendo fatores neurológicos, genéticos e ambientais.
Apesar de ser a Perturbação da Fluência menos conhecida, isso não significa necessariamente que seja rara. É possível que a sua prevalência esteja subestimada, já que este é um diagnóstico pouco conhecido e algumas pessoas que lidam com o mesmo desconhecem a sua designação e que um Terapeuta da Fala pode ajudar. Como resultado, há menos estudos científicos sobre o tema, quando comparado com a gaguez.
Curiosamente, é possível que a taquifemia e a gaguez coexistam na mesma pessoa. Nestes casos, o que vemos em consultório é que os pacientes procuram ajuda para a gaguez e acabam por ser diagnosticados também com taquifemia. Isto acontece pelo que referi no parágrafo anterior e também porque a gaguez é mais evidente para quem a tem.
Uma forma simples de entender as diferenças entre gaguez e taquifemia é compará-las à condução de um carro:
Gaguez – É como estar ao volante e ter dificuldades em arrancar, seguindo depois por uma estrada cheia de semáforos vermelhos e lombas. O discurso trava inesperadamente (bloqueios), pode arrancar aos solavancos (repetições) ou demorar a arrancar (prolongamentos). A frustração surge porque a pessoa quer avançar, mas encontra obstáculos no caminho e não tem controlo sobre eles.
Taquifemia – Aqui, a pessoa conduz a alta velocidade, sem travões, sem perceber que está a passar sinais vermelhos e a perder saídas importantes. O discurso é tão rápido e desorganizado que, quando se apercebe, já pode estar longe demais, sendo obrigada a voltar atrás porque os outros não a entenderam. É difícil controlar os comportamentos e fazer uma auto monitorização, mas como a falta de controlo não se traduz em bloqueios, por vezes a pessoa não nota que há um “problema”.
A taquifemia tem muitas nuances e, infelizmente, ainda é um diagnóstico pouco estudado na literatura científica. Por não ser amplamente reconhecida, muitas pessoas vivem com esta perturbação sem saber que há estratégias para melhorar a comunicação.