Será a memória um simples registo de tudo o que vivemos?

O que aconteceria se conseguíssemos registar na memória as experiências, os factos e os acontecimentos de forma indelével sem qualquer hipótese de desvio ou reinterpretação?

«A memória não é um simples registo de tudo o que vivemos. Ao contrário do que gostamos de pensar, a nossa memória é limitada e não conseguiria guardar toda a informação. A sua função é ir atualizando o registo. O seu trabalho é uma reescrita constante da nossa história, que assim se vai modificando com o tempo, tal como o nosso corpo vai mudando e o mundo à nossa volta se vai alterando. A maravilha da memória, a maravilha do funcionamento do cérebro, é, paradoxalmente, fruto das suas limitações», refere Pedro Cabral.

Este livro, feito a partir da experiência clínica, é sobre a memória. «Não sobre as falhas de memória que vemos no envelhecimento e nas doenças degenerativas, mas sobre o que acontece quando as memórias não se conseguem modificar. O autismo surge como um exemplo maior dessa dificuldade em esquecer: quando o cérebro não consegue atualizar os seus registos, tudo à volta tem de ficar igual. O autismo é por isso uma doença da memória, consequência de um passado que resiste a ser reescrito», esclarece o autor.

O que aconteceria se conseguíssemos registar na memória as experiências, os factos e os acontecimentos de forma indelével sem qualquer hipótese de desvio ou reinterpretação? Teria alguma vantagem? Tornar-nos-ia diferentes?

«Neste livro, o neurologista Pedro Cabral percorre o caminho das memórias imutáveis, através das histórias de crianças e jovens que acompanhou e que nos apresenta com grande sensibilidade. Com ele vamos desvendando as contradições e a aparente imperfeição que caracterizam a natureza da cognição humana», afirma Isabel Pavão Martins, neurologista, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Pedro Cabral é neurologista pediátrico, dedicando-se desde os anos 80 à epilepsia e à neurologia do desenvolvimento. Especializou-se em Neurologia no Hospital de Egas Moniz.

Foi bolseiro da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento na Universidade Católica de Lovaina. Em Lisboa, exerceu as funções de assistente hospitalar de Neurologia Pediátrica no Instituto Português de Oncologia e no Hospital Dona Estefânia e de chefe de serviço no Hospital de São Francisco Xavier.

Foi consultor de Neurologia Pediátrica na Liga Portuguesa dos Deficientes Motores, no Hospital de São Roque (Misericórdia), no Hospital do Espírito Santo de Évora e diretor clínico do CADin.

Dirigiu o Departamento de Neurociências no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e é coordenador do Centro de Referência de Epilepsia Refratária do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental / Centro Hospital Universitário Lisboa Central.

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