Com a subida das temperaturas e a confirmação de que esta será uma estação mais quente do que o habitual, está a aumentar o risco de doenças relacionadas com o calor — especialmente entre pessoas que tomam certos remédios prescritos. O corpo humano recorre a mecanismos naturais, como a sudorese, o aumento do fluxo sanguíneo para a pele e o controlo dos níveis de hidratação, para manter a temperatura estável. No entanto, algumas medicações podem interferir nestes processos e tornar a adaptação ao calor mais difícil.
1. Antidepressivos (SSRI e tricíclicos)
Bloqueiam neurotransmissores como a acetilcolina ou aumentam a noradrenalina, o que pode alterar a capacidade de suar. Isso pode causar tanto sudorese excessiva quanto suor insuficiente, aumentando o risco de insolação ou desidratação.
2. Antipsicóticos
Estas drogas interferem nas funções do hipotálamo — a parte do cérebro responsável pela regulação térmica — e possuem propriedades anticolinérgicas que bloqueiam a acetilcolina, diminuindo a capacidade de suar, provocando ainda tensão nas artérias, suor reduzido e aumento da retenção de calor.
3. Medicamentos para o coração
-
Beta-bloqueadores reduzem o batimento e a força de contração do coração, limitando o fluxo de sangue à pele e dificultando a perda de calor.
-
Diuréticos aumentam a produção de urina e podem provocar desidratação e desequilíbrio eletrolítico, prejudicando a sudorese e levando a sintomas como tonturas e desmaios.
-
Substâncias como ramipril e losartana, utilizadas para hipertensão, podem bloquear mecanismos que regulam a sede e a pressão arterial, reduzindo a vontade de beber água.
4. Estimulantes para o TDAH (anfetaminas)
Elevam a temperatura corporal e o metabolismo, e alteram o padrão de suor. Podem provocar desidratação, sobreaquecimento ou mesmo insolação, especialmente durante exercício ou em ambientes quentes. Alguns estudos sugerem que estes fármacos até poderiam ter um efeito protetor, mas ainda são necessários mais dados.
5. Insulina
Com o calor, os vasos sanguíneos dilatam-se, acelerando a absorção de insulina e aumentando o risco de hipoglicemia — com sintomas como tonturas, irritabilidade ou perda de consciência. Além disso, o calor pode comprometer a eficácia da insulina, que deve ser conservada em local fresco para evitar alterações na sua composição.
Como prevenir complicações no calor
-
Armazenar medicamentos conforme indicado, evitando exposição direta ao sol, carros estacionados ou peitoris.
-
Manter hidratação constante, salvo indicação médica contrária.
-
Fugir às horas de maior calor — entre meio-dia e 18h, especialmente nos dias de onda de calor.
-
Observar sinais de insolações: tonturas, confusão, náuseas ou suor excessivo.
-
Não suspender ou alterar tratamentos médicos sem orientação profissional, comunicando sempre qualquer dificuldade em lidar com o calor.