«O diagnóstico atempado da psoríase é essencial»

Segundo a Associação Portuguesa da Psoríase (PSOPortugal), esta doença da pele afeta cerca de 200 a 250 mil portugueses, mas apenas 50% são acompanhados por um médico. Para saber mais sobre a psoríase e perceber estes números, falámos com Jaime Franco Melancia, presidente da PSOPortugal.

A psoríase é uma doença crónica da pele, não contagiosa, que pode surgir em qualquer idade. Fruto da falta de informação, a psoríase é uma doença que ainda suscita alguns preconceitos e estigmas. Ainda há quem julgue que esta doença é contagiosa, e reforço, a psoríase não o é de todo! A origem da psoríase não está totalmente esclarecida, embora se saiba que é geneticamente determinada e envolve alterações no funcionamento do sistema imunitário, que provocam inflamação e aumento da velocidade de renovação das células da epiderme.

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Embora seja geneticamente determinada, não significa que a hereditariedade de pais para filhos seja obrigatória. Contudo, verifica-se uma maior probabilidade de aparecimento da doença em pessoas que tenham familiares portadores da mesma.

 

A que sintomas devemos estar atentos?

Existem várias formas ou tipologias de psoríase e cada uma afeta os doentes de forma particular. A psoríase em placas é a forma mais comum e afeta 80% dos psoriáticos. Manifesta-se em qualquer parte do corpo, no entanto, incide especialmente nas áreas dos cotovelos, joelhos, costas e couro cabeludo. O seu aspeto, extensão, evolução e gravidade são muito variáveis, caracterizando-se, geralmente, pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e cobertas por escamas branco-prateadas.

 

Existe cura, ou a doença só pode ser controlada? Em que consiste o tratamento?

Infelizmente, a psoríase ainda não tem cura. Mas pode ser tratada e gerida de forma a que o doente consiga viver a sua vida com uma normalidade total. Nas formas ligeiras e localizadas, as terapêuticas tópicas são geralmente eficazes. Atualmente estão disponíveis tratamentos tópicos (em gel, espuma ou solução) que, quando utilizados corretamente, permitem o controlo da doença.

Nos casos mais extensos e graves, habitualmente é necessário recorrer a terapêuticas orais ou injetáveis, que permitem o controlo da doença na grande maioria dos doentes. Nos últimos anos, decorrente do avanço que se observou no conhecimento da doença, foram desenvolvidas inúmeras terapêuticas, chamadas de agentes biológicos, que revolucionaram o tratamento da psoríase e da artrite psoriática, capazes de promover a resolução completa ou quase completa das lesões psoriáticas e devolver a qualidade de vida perdida com a doença.

 

Que complicações esta doença pode trazer?

Não sendo adequadamente tratada, a psoríase pode evoluir para situações graves, que causam grande desconforto e dor. O diagnóstico médico atempado da psoríase é essencial e, aliado a uma terapêutica correta, previne o sofrimento desnecessário dos doentes, os problemas articulares graves e irreversíveis, e, claro, o descontrolo da doença. Para além das consequências físicas, podem também existir graves consequências psicológicas. 76% dos doentes afirmam que sentem o forte impacto psicológico da doença e isso está muitíssimo relacionado com o facto de a mesma interferir na relação com o outro, de ter impacto em situações de exposição do corpo, como a ida à praia, de ainda ser fator de discriminação no local de trabalho ou no acesso a ele, de influenciar a vida íntima e sexual do indivíduo. Obviamente, estes e outros exemplos, como as perturbações no sono, levam a que haja elevados níveis de depressão associados à doença e um estado de tristeza acentuado, que inclusivamente influencia a relação médico-doente.

 

A psoríase afeta ou é afetada por outras doenças?

A psoríase está associada a múltiplas comorbilidades, incluindo cardiovasculares (obesidade, hipertensão arterial e doença cardiovascular), a artrite psoriática, diabetes, responsáveis por notórios efeitos psicológicos no doente, sendo muito comum, entre os pacientes com psoríase, casos de depressão, desespero, tristeza, angústia e stress, o que, por sua vez, também agrava a sua condição física.

 

Qual a prevalência da doença no nosso país?

Em Portugal, estima-se que afete entre 200 a 250 mil pessoas, sendo que cerca de um terço está subdiagnosticada e um terço subtratada.

 

Por que apenas 50% destas pessoas são acompanhadas por um médico?

Uma justificação é a falta de especialistas em dermatologia, especialmente no SNS. Existem cerca de 450 especialistas em dermatologia, e somente 30% integram o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Habitualmente, o médico de família é muitas vezes quem segue os casos de psoríase mais leves. No entanto, quando há necessidade de referenciar a um dermatologista, tudo se complica, pois os tempos de espera no SNS são enormes. Por isso uma grande parte dos doentes de psoríase, os que podem, estão a ser seguidos na clínica privada, embora muitas vezes tenham de se deslocar aos grandes centros urbanos, a muitas dezenas ou mesmo centenas de quilómetros da sua área de residência.

 

Que medidas considera que são adequadas tomar para colmatar a falta de especialistas?

É evidente que cabe ao Ministério da Saúde colmatar a falta de dermatologistas no SNS, especialmente fora das grandes cidades, criando as condições que tornem atrativa a sua contratação, nomeadamente no que diz respeito à satisfação profissional. Enquanto isso não acontece, foram tomadas medidas como o rastreio teledermatológico, um serviço de grande utilidade na referenciação, mas que não resolve o problema das consultas dos doentes de psoríase, que necessitam de regularidade no acompanhamento pelo dermatologista. A PSOPortugal desenvolveu, em conjunto com o Centro Nacional de TeleSaúde, um projeto de teleconsultas de dermatologia. Este serviço será prestado por dermatologistas na PSOPortugal e integrado no SNS. O doente, em conjunto com o seu médico de família na unidade de cuidados de saúde primários, efetuará uma teleconsulta em tempo real com o dermatologista. Sabemos que os doentes preferem as consultas presenciais, mas entre estar à espera meses, ou mesmo anos, por uma consulta da especialidade, ou ter de se deslocar a grandes distâncias, certamente que a teleconsulta permitiria que muitos doentes fossem mais rapidamente diagnosticados e adequadamente tratados, em particular os que têm menos recursos para serem seguidos na clínica privada.

Esperamos que tão breve quanto possível possamos implementar um projeto piloto, aproveitando os novos recursos tecnológicos recentemente disponibilizados pelos SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, a nova Plataforma de Telessaúde RSE Live.

 

A PSOPortugal criou um portal para ajudar a localizar um dermatologista na área de residência dos doentes. Como funciona?

Com o apoio da Novartis, conseguimos desenvolver a solução “Encontre o Seu Dermatologista”, no website da associação, que permite aos doentes ou aos seus familiares encontrar um dermatologista mais facilmente. Através de uma simples pesquisa por distrito, concelho e/ou código postal, as pessoas vão conseguir ter informação sobre os dermatologistas que estão disponíveis para consulta perto das suas áreas de residência. Esperamos vir a ter a adesão de mais dermatologistas, que podem solicitar a sua inclusão no formulário disponível no portal. A ideia deste portal surgiu da necessidade de dar resposta às constantes solicitações dos doentes psoriáticos, que recorrem à PSOPortugal no sentido de os ajudarmos a identificar um dermatologista. Obviamente que, enquanto associação de doentes sem serviços clínicos, não devemos indicar um ou outro médico em particular, mas sim continuar o nosso trabalho de defesa dos interesses dos doentes com psoríase.

 

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