O arranque fica marcado pela falta de professores, e ainda desacordo entre alguns sindicatos do setor da educação e o Governo, quanto a questões de carreira, vinculação e descongelamento de progressões mas, também (e como habitual), este período fica marcado por um crescendo dos casos de infeções respiratórias, segundo alerta à Executive Digest Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, avança a Executive Digest.
Para além de maiores contactos entre crianças e adolescentes, decorrente do regresso às aulas, esta altura de fim de férias significa também que milhões de portugueses regressam ao trabalho, pelo que se criam as condições ‘ideais’ par a a propagação de vírus respiratórios, como a gripe, Covid-19 ou vírus sincicial respiratório (VSR), entre outros.
Nesse sentido, Gustavo Tato Borges deixa alguns conselhos e situações que devem motivar a atenção de todos neste período.
Com o regresso às aulas e ao trabalho, é expectável que vejamos já um crescimento do número de casos de infeções respiratórias?
A verdade é que sabemos que todos os anos, quando se iniciam as atividades escolares, há um aumento de casos de infeção respiratória. Não necessariamente logo no início das aulas, mas, passado um tempo, conseguimos ver esse aumento e ver o absentismo escolar e laboral, muitas vezes associado aos pais que tomam contas do filhos (no caso de doença)
É expectável que possa ocorrer esse acontecimento, em que há maior frequência de espaços em comum por crianças e jovens que não têm tanta preocupação e tantos cuidados com o distanciamento social, com o uso de máscaras – e que é perfeitamente natural e normal que assim seja. Tudo isso tem um potencial de fazer aumentar o numero de infeções respiratórias em Portugal – não só o regresso ás aulas, mas o regresso em massa de todos os trabalhadores ao local de trabalho, e convívio entre adultos que muitas vezes já se ‘esqueceram’ dos riscos que corremos nesta altura do ano, e da importância de manter cuidados, como o uso de máscara quando temos sintomas, desinfeção das mãos,… Até por parte das entidades laborais! Que se esquecem da importância do teletrabalho para evitar riscos nestas alturas…
Para alem das compras de livros, material escolar, os testes à Covid-19 e máscaras devem fazer parte do ‘kit’ de início das aulas?
Não diria que é obrigatório toda a gente andar a testar-se sempre que tem sintomas. O mais importante no meio da nossa atividade e dia a dia normal, é percebermos, quando tempos sintomas respiratórios, o que podemos fazer para minimizar o impacto da nossa doença na nossa vida e na vida dos outros. Sempre que temos um sintoma, nós devemos pensar que estamos infetados com alguma coisa, algum vírus respiratório, e precisamos de proteger as pessoas à nossa volta.
O uso da máscara deve ser algo perfeitamente natural, em especial nos adultos. Nas crianças sabemos que é difícil conter estas circunstâncias, por isso, quando se tem sintomatologia, e ela se torna preponderante, será sempre significativa a possibilidade de podermos retirar as crianças de ambiente escolar, minimizando a possibilidade de contágio para as pessoas com quem contactam, colegas, professores, funcionários, etc.
Precisamos de mudar mais o nosso raciocínio quando estamos doentes, nós ou os nosso filhos, para além do que é a necessidade do diagnostico. É o que fazemos agora que vai ser determinante na evolução da doença nos próximos meses.
O que fazer para reforçar o sistema imunitário, e prepará-lo para esta altura em que estamos (mais) expostos a outros agentes e maiores riscos?
Como sempre, e é medida transversal qualquer fase do ano: ter uma alimentação cuidada, manter pratica de exercício físico, hábitos de vida saudável. Dormir o número de horas necessárias. São tudo medidas que vão ajudar o nosso organismo a estar mais ativo, e estando mais ativo, está mais capaz de reagir a qualquer ameaça biológica que possa surgir, vírus ou bactéria que possa entrar.
É importante que possamos manter este habito de vida saudável.
É importante que haja atualização do Plano Nacional de Vacinação, nos adultos também caso tenhamos recomendação para sermos vacinados contra gripe e Covid. Se alguém com alguma patologia que é recomendada vacinação sazonal, também o deve fazer. E obviamente as crianças devem manter o PNV atualizadíssimo.
Para além disto depende de criança para criança, se tem alguma necessidade específica, mas o acompanhamento com médico de família ou pediatra pode determinar, eventualmente, a receita de suplementos, de vitamina C, sais minerais e outra vitaminas, que associada a alimentação, exercício e vida saudável, poderem estar um bocadinho mais disponíveis.
Os cuidados preventivos de saúde, obviamente, não são 100% infalíveis para evitar uma doença, pelo que devemos certificarmo-nos que mantemos a preocupação de proteger os outros e tentarmos ser o mais saudáveis possível, para nos protegermos de uma eventual consequência nefasta.
Este ano temos tido alguns ‘sustos’ e alerta relativamente a doenças tropicais como a dengue, zika, ou a febre hemorrágica da Crimeia do Congo… Com esta maior circulação e contacto entre pessoas, aumentam os riscos relativamente a estas potenciais ameaças?
Diria que, para a população em geral, não é um risco substancial nesta fase, para nos SNS, para saúde pública, são já um assunto que estamos a vigiar e monitorizar há bastante tempo, e continuamos atentos. É uma preocupação no sentido em que devemos estar alerta, para que o risco não aumente, e de forma a trabalhar com a população para colaborar para controlo de risco
No caso doenças tropicais especificamente, são transmitidas por vetores. Temos de ter consciência de pequenos viveiros de mosquitos que temos em casa, e que devíamos minimizar, por exemplo, vasos com um pratinho de água. Essa água parada, ou os nosso tanques, aliás, qualquer água estagnada parada, é um ótimo local para que o mosquito se desenvolva. Devemos mudar água varias vezes para não serem viveiros desse vetor.
São pequenos conselhos que são importante para que haja menos risco de desenvolvimento e instalação destes mosquitos no nosso país. Para a população em geral, neste momento, o risco continua a ser bastante baixo.