Para assinalar o Dia Europeu das Línguas, a organização internacional do Reino Unido para as relações culturais e oportunidades educativas lembra que a forma como a língua é utilizada nos diferentes países e territórios dá origem a diferentes variantes do inglês.
O estudo levado a cabo pelo British Council refere que a língua se encontra num “estado de fluxo” contínuo, em que as fronteiras entre os idiomas se esbatem, sendo a língua inglesa utilizada de várias formas, muitas vezes em situações multilingues.
Em linha com esta tendência, Julie Tice, Diretora Académica do British Council em Portugal, reflete sobre a forma como o português marcou a língua inglesa e a origem etimológica de algumas palavras portuguesas importadas para a língua de Shakespeare.
- albino – Idêntica à palavra em português, que por sua vez veio do latim albinus.
- auto-da-fé – Entrou no léxico inglês pelos escritores ingleses que descreveram o ritual público de penitência dos condenados pela Inquisição.
- cobra – Tem origem na língua portuguesa, que por sua vez veio do latim colubra.
- Labrador – É um território na costa leste do Canadá. Apesar da sua origem ser incerta, a opinião mais consensual é de que se deve ao apelido do navegador João Fernandes Lavrador, o primeiro europeu a cartografar a costa nordeste da América do Norte. A raça de cães labrador retriever é uma raça originária desta região.
- lingo – Significa calão, e vem do português arcaico lingoa, hoje referido como língua.
- tank – Veio do português tanque, que por sua vez tem origem no árabe ṭanqah, que significa cisterna.
- zebra – Remonta ao tempo em que os portugueses foram os primeiros europeus a ver estes animais em África. Consideraram-nos semelhantes aos zebros, uma espécie de cavalos entretanto extinta e originária da Península Ibérica.
Os “world’s Englishes” que refletem a multiculturalidade
The Future of English: Global Perspectives é a primeira publicação do estudo lançado pelo British Council em 2020, que analisou as tendências que moldam a utilização do inglês como língua global atualmente. Uma das principais conclusões é a existência de um número crescente de variantes regionais do inglês, os “world’s Englishes” e a forma como o reconhecimento de todas as variantes pode contribuir para a preservação do seu estatuto de língua global.
“As diversas variantes do inglês já estão a ter influência pelo facto de serem aceites e de lhes serem conferidos estatutos. O inglês pertence a quem o utiliza. As variantes locais do inglês desenvolveram-se como línguas francas locais, incluindo o Hinglish, uma mistura de hindi e inglês na Índia, e o Singlis, utilizado em Singapura, que incorpora o chinês e o malaio“, refere Mina Patel, Head of Research do Estudo The Future of English: Global Perspectives.
O estudo, feito com professores, mostra que embora a maioria esteja consciente do conceito de “inglês global”, o inglês britânico ou americano continua a ser o padrão, ainda assim, com uma utilização própria da língua, nomeadamente ao nível da pronúncia.
Na certificação da língua inglesa, os testes mais considerados (IELTS, TOEFL e Pearson) continuam a ser reconhecidos e utilizados, mas há já procura de formas alternativas de avaliação do inglês que têm em consideração as diferentes variantes, o que deverá influenciar a avaliação no futuro. O estudo prevê que os padrões da língua inglesa continuarão a existir, embora outras variantes estejam a ser discutidas no mundo académico e ao nível da política educativa.