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Lembra-se do Rock Rendez Vous? A “memória inesquecível” deste mítico espaço de concertos lisboeta em imagens é editada hoje em livro

A “memória inesquecível” dos tempos em que o n.º 175 da Rua da Beneficência, em Lisboa, era morada do Rock Rendez Vous, “a sala de espetáculos” que marcou uma geração, é partilhado num livro de fotografias que é hoje editado.

18 Abril 2024
Forever Young

O coordenador de “Rock Rendez Vous – Uma história em imagens”, Luís Carlos Amaro, fala no clube de rock, que funcionou entre dezembro de 1980 e julho de 1990, como “uma memória inesquecível”.

“Sobretudo para quem viveu aquele período, porque é um pouco como um espaço ou como o palco de uma geração, que viveu os anos 1980 e que viveu numa maneira bastante intensa”, disse, em declarações à Lusa.

Por considerar que “a riqueza que se viveu naquele espaço era demasiado importante para se deixar perder”, Luís Carlos Amaro dedicou-se à criação de um documentário – “Rock Rendez Vous – A revolução do rock”, de 2014 – e de um livro, preservando assim o retrato e memória de um sítio “tão importante, que ainda hoje continua a ser lembrado”.

Ana Cristina Ferrão, autora do prefácio do livro, com uma vida dedicada à música, sobretudo através da rádio, recorda o Rock Rendez Vous como “a sala”, “a sala de espetáculos” da década de 1980, embora não fosse a única, referiu.

“Nós não tínhamos um Marquee Club [popular clube de música londrino inaugurado em 1958] ou um CBGB [icónico clube de música em Nova Iorque], clubes que fazem fermentar, fazem crescer. O Mário Guia, como visionário que pega num cinema e o transforma num clube de rock, quer fazer um Marquee ou um CBGB”, recordou Ana Cristina Ferrão, lembrando que o fundador do Rock Rendez Vous, que foi músico, “percebeu essa necessidade e percebeu que Lisboa precisava disso”.

O espaço, que conciliava discoteca e sala de espetáculos, abriu em 18 de dezembro de 1980, com um concerto de Rui Veloso e, até ao encerramento, em 27 de julho de 1990, foi palco para inúmeras bandas e artistas portugueses, que na altura davam os primeiros passos, como Xutos & Pontapés, Mão Morta, GNR, Pop Dell’Arte, Ena Pá 2000, Rádio Macau, Sitiados, Heróis do Mar, Mler Ife Dada, Ocaso Épico, Essa Entente, António Variações, Telectu, Ku de Judas, Mata-Ratos, Radar Kadafi, Afonsinhos do Condado, Lena D’Água.

“Quando surge o Rock Rendez Vous, finalmente, as bandas, mesmo as que se estavam a lançar, têm um espaço e têm um palco digno”, disse Luís Carlos Amaro, recordando os concertos organizados em universidades de Lisboa, onde alguns dos músicos estudavam.

Ir tocar ao Rock Rendez Vous “era um marco para qualquer banda”.

Ana Cristina Ferrão e Luís Carlos Amaro concordam que “não voltou a haver uma sala como esta”.

No entanto, apontam o Johnny Guitar ou o Sabotage, já encerrados, ou o Musicbox como clubes que foram colmatando de alguma maneira a falta do clube da Rua da Beneficência, embora com formatos diferentes e espaços muito mais reduzidos.

Reavivar o Rock Rendez Vous hoje seria “difícil”.

“É difícil recriar esta experiência num outro tempo. O Rock Rendez Vous também é um bocadinho produto daquele período específico. Nasce com uma imensa ansiedade de uma geração que quer viver o mais possível”, referiu Luís Carlos Amaro.

Ana Cristina Ferrão recorda que nessa altura, “os primeiros dez/quinze anos do pós-25 de Abril de 1974”, a geração de jovens “começava a ver algum futuro”, com o acesso à Cultura e à informação e o fim da Guerra Colonial, para a qual muitos eram mobilizados e da qual outros fugiam, exilando-se noutros países.

É também por isso que o livro “é um acervo espetacular de uma sociedade em mutação”.

“E foi uma mutação muito rápida que todos nós tivemos”, disse.

“Rock Rendez Vous – Uma história em imagens” partiu do documentário, onde já eram mostradas várias fotografias tiradas do espaço, a maioria das quais de Peter Machado (1956-2011), mas também de Álvaro Rosendo e de Pedro Lopes (1960-2020).

“Na altura pensei: ‘o documentário tem fotografias tão ricas, que estar a passar um conjunto de ‘frames’ não dá, isto precisa de outro tempo de leitura. Vi um livro de fotografias do CBGB e pensei que tinha que ser um livro”, partilhou.

No livro, há também imagens captadas pelas lentes de Rui Vasco, “que foi o primeiro fotógrafo residente do Rock Rendez Vous”, José Faísca (1964-2021), “que deu uma ajuda fantástica a catalogar muitas das imagens, porque tinha uma memória fantástica”, e Céu Guarda, “que na altura estava no jornal Independente e também foi lá algumas vezes”.

No livro, uma edição da Tinta da China, as imagens são todas a preto e branco, mas por opção do coordenador da obra e não porque naquela época ainda não existisse fotografia a cores.

“Achei que o preto e branco dava-lhe uma certa imortalidade. Gosto de fotografia a preto e branco e achei que a coisa ia resultar e ia tornar intemporal, digamos”, explicou Luís Carlos Amaro.

À edição do livro foi associada uma exposição, que está patente no espaço Avenidas, na Rua Alberto Sousa, perto do local onde era o Rock Rendez Vous.

A mostra “Rua da Beneficência, 175”, de entrada livre, pode ser visitada até 31 de maio.

A ideia de Luís Carlos Amaro é levar a exposição, pelo menos, até ao Porto. “Está em mente, mas não há nada certo ainda”, disse.

JRS // MAG

Lusa/Fim

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