Estamos este mês a entrar no auge do surto pandémico da Covid-19. Para muitos portugueses, que se encontram em reclusão nas suas casas, a vida mudou por completo nas últimas semanas. Um dos principais fenómenos que surgiu com grande prevalência foi o uso diário de videochamadas. Seja para falar com amigos, familiares, ou colegas de trabalho todos somos agora “obrigados” a utilizar esta tecnologia para nos continuarmos a relacionar com o resto do Mundo.
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Sendo certo que estas tecnologias de videoconferências – como o Skype, o Zoom, e o Duo – nos permitem ter um contacto mais próximos com os outros, é também verdade que a experiência pode tornar-se algo bizarra. O nível de intimidade que a videochamada oferece pode tornar as nossas interações desconfortáveis. A forma como interagimos remotamente é diferente e, na maioria dos casos bastante, mais “estranha”.
Norman Friesem, um conhecido investigador na área da educação tecnológica, tem dedicado a sua vida a explorar estas diferenças e a melhor entender os estranhos elementos que caracterizam a interação entre seres humanos via videoconferência. Em particular identificando os problemas que surgem sempre que a tecnologia é introduzida no meio educativo.
Eis 4 das coisas mais desconfortáveis que, segundo Friesem, acontecem sempre que estamos envolvidos numa videochamada com outras pessoas.
- Falta de contacto visual
Uma das questões mais óbvias é a forma como a videoconferência interfere com a nossa capacidade de estabelecer contacto visual. Isto acontece por culpa de uma simples limitação técnica: é impossível colocar a câmera e o écran exatamente no mesmo sitio. Ou seja, sempre que olhamos para a câmera estamos a dar a impressão ao outro que estamos a olhar para ele. No entanto, se quisermos olhar para os olhos dele no écran iremos imediatamente estar a parecer olhar para outro lado.
Esta disfunção é extremamente relevante e ajuda a explicar grande parte do desconforto que sentimos. Para que uma interação humana funcione da melhor maneira possível, é essencial que ambas as partes envolvidas demonstrem interesse e ofereçam a sua respetiva atenção. Isso é concretizado através do contacto visual que estabelecemos. Vemos e ouvimos os outros, da mesma forma que eles nos veem e ouvem a nós.
- Aparência errada / disfuncional
Para todos aqueles – sobretudo professores – que tenham agora que utilizar estas tecnologias para lecionar as suas aulas é importante relembrar um aspeto fundamental. Durante a sessão a face do professor estará sempre (SEMPRE) visível e todos os alunos estarão a olhar para si de uma forma bem mais intensa do que o normal. Afinal estamos todos perto dos écrans, como tal parecemos bem maiores do que normal e passa a ser possível identificar todas as imperfeições e todos os comportamentos mais estranhos.
Toda a gente irá conseguir ver a forma como toca na cara, como mexe no nariz e como as suas expressões faciais vão ligeiramente mudando. Isto obriga a que estejamos bem mais conscientes da forma como atuamos perante a câmara e, como tal, acabamos por estar também menos confortáveis.
- Sentimo-nos observados
Com a falta de contacto visual e com a inexistência de uma interação recíproca, é natural que quem estabeleça uma videoconferência possa sentir-se excessivamente observado, escrutinado e vigiado. Preocupamo-nos com a ideia de como os outros nos estão a percecionar. “Como é que a minha câmera me está a transmitir?”.
Apesar de fingirmos que estamos a olhar para a outra pessoa, o mais provável é que durante a videochamada estejamos a olhar para a nossa imagem no écran, tentando determinar de que forma podemos melhorar o nosso aspeto, ajustando ângulos, cabelos, etc.
Tudo isto acaba por distrair e enervar os participantes das videochamadas. É um pouco como se estivéssemos sempre a falar em frente de um espelho, hiper conscientes da nossa imagem e reflexo.
- Vozes esquisitas
Este é um clássico da interação remota. “Estão a ouvir-me bem?” tornou-se provavelmente na pergunta mais popular das últimas semanas. A verdade é que durante uma videoconferência é difícil perceber exatamente como os outros nos estão a ouvir. O mais provável inclusive é que o nosso discurso seja transmitido com “cortes” e interferências que dificultam a interação.
Já quando conversamos presencialmente somos capazes de ajustar o tom da nossa voz e a entoação, à medida do nível do som ambiente em nosso redor. Isso torna-se bastante mais difícil numa videochamada, podendo contribuir para tornar toda a interação mais desconfortável. Esta disfunção pode ser tão negativamente prevalente como uma ausência de contacto visual.
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